domingo, 15 de junho de 2008

Os quatro atos positivos e negativos da palavra

A franqueza. É a transparência e a veracidade no falar, pois nossa comunicação não é só de idéias, mas também de sentimentos. A franqueza não significa grosseria, mas sinceridade com caridade. É a catársis, o desabafo, a verbalização do que se passa no íntimo. Fala-se com o coração. As pessoas verazes não sofrem de úlceras gástricas, nem de desconfiança, fechamento, inibição. Elas têm o dom da comunicação verbal e não verbal. A franqueza facilita o diálogo, porque é transparência, não tem segundas intenções, faz jogo limpo. A lealdade e a fidelidade no falar granjeiam simpatia, confiança e bom relacionamento.
2. O elogio. É um ato de justiça, reconhecimento e gratidão. Confirma o bem, eleva as pessoas, promove a verdade, reconhece os valores. O elogio vale ouro. É uma verbalização do amor e da verdade. É um gesto de carinho, um toque de ternura que só pode fazer bem e multiplicar a virtude. O bem deve ser notado, valorizado e publicado. Pelo elogio as pessoas adquirem motivação, inspiração e incentivo para perseverar no bem, na virtude, na verdade. O elogio é uma benção porque é dizer o bem, bendição.
3. A escuta. A palavra se origina no pensamento, no deserto, no silêncio, na escuta. É do interior que brotam as palavras. Quem sabe ouvir, escutar, silenciar, está se comunicando e falando através da comunicação não verbal e está valorizando a palavra de quem se comunica. Ouvir é compreender, é acolher, é integrar-se. Escutar é parte integrante do diálogo.
4. A clareza. Falar claro é falar com sinceridade, com o coração, mas também é ter boa dicção para ser compreendido, é falar com simplicidade, concisamente, sinteticamente. Clareza é transparência, como também, é boa dicção, lógica, expressão verbal audível, que possibilita a interação das pessoas. Falar baixo, ligeiro demais, com prolixidade, com palavras rebuscadas impede a espiral da comunicação que é: escutar, compreender, falar, agir.
Falar na hora certa, do jeito certo, a palavra certa nem sempre é fácil. O mau uso da palavra gera mal-entendidos, meias-verdades, incompreensões, agressões e guerras. Há palavras que ferem como punhal, queimam como fogo, infernizam a vida. Quatro são os atos negativos da palavra, ou seja, o mau uso da língua, os entraves na comunicação.
1. A mentira. Consiste em falar o contrário das nossas convicções, geralmente em nosso proveito, prejudicando o próximo e até usando Deus como testemunha. É a perversão do diálogo, intenção de enganar, a distorção dos fatos, falsificação da verdade. A mentira destrói a confiança, acoberta a corrupção, manipula a fidelidade. Mesmo pequena a mentira tem força satânica. É impossível a convivência onde reina a mentira. Manter mentiras custa caro e no final, tudo desaba. O reino da mentira fecunda a duplicidade, a falsidade, a desconfiança. A mentira hoje é onipresente e tudo corrompe.
2. A discórdia. É a maledicência, a fofoca, a cizânia, o mexerico, verdadeiros pecados da língua como diz a Bíblia. Tudo isso fere a dignidade humana, o direito à honra e à privacidade, o direito à fama e ao bom nome, gerando divisões, separações, inimizades. A discórdia tem o nome de detração quando aumentamos os defeitos dos outros, revelamos o oculto, calamos maliciosamente quando deveríamos falar, culpamos inocentes, interpretamos o bem negativamente. Nas épocas de eleições estas coisas acontecem com requintes de crueldade, baixaria, desumanidade, violência.
3. O insulto. Consiste em humilhar as pessoas diretamente e diante de terceiros. O insulto é humilhação e depreciação, rebaixamento e aviltamento. Tem o nome de contumélia quando os defeitos são ditos na bochecha, jogados no rosto de forma agressiva, depreciativa. O insulto tem sabor de vingança, raiva, ódio, desforra, e pessoas são difamadas e humilhadas em público. A boa fama deve ser restituída. Toda pessoa tem este direito.
4. A tagarelice. É a demagogia, o palavrório, a falação, a retórica. Tagarelice é falar sem fundamento, dizer sem viver, sem testemunhar. As prédicas sem práticas, os discursos sem as obras, as falas sem escuta, a lábia enganosa, a linguagem inautêntica, o blá blá blá sem sentido etc, tudo é tagarelice, mau uso da palavra, inflação de sons. O tagarela fala da boca para fora, não cultua o silêncio, a interioridade, a transparência. Entra em contradição, diz o que não vive, quer convencer à força de palavras. “Este povo me louva com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Mt 15,8).

Dom Orlando BrandesArcebispo de Londrina - PR

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