sexta-feira, 4 de julho de 2008

PENTECOSTES

At.2,3-11 / 1Cor.12,3b-7.12-13 / Jo.20,19-23

Deus é constituído de três pessoas divinas distintas e indivisas, com funções distintas, uma das pessoas da Trindade nunca pode estar separada das outras duas pessoas divinas. Em relação à criação e salvação da humanidade cada uma das pessoas da Trindade tem o seu tempo próprio: o tempo do Pai vai da criação até à encarnação de Jesus, o tempo de Jesus começa com a encarnação e termina com a vinda do Espírito santo e o tempo do Espírito Santo vai de Pentecostes até à volta do paraíso terrestre (céus novos e terra nova) quando Jesus retomará a sua função em relação à humanidade.

Como a Trindade é indivisa, o Pai, o Filho e o Espírito Santo estão sempre juntos, mas, em relação à humanidade, cada uma das Pessoas Divinas exerce sua função sucessivamente: a partir da chegada do Espírito Santo, a Trindade age sobre os seres humanos através da terceira Pessoa. Estamos, portanto, vivendo no tempo do Espírito Santo. O Espírito Santo age sobre todos, mas de duas formas diferentes: 15 Se me amais, guardareis meus mandamentos. 16 Eu pedirei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, que estará convosco para sempre. 17 Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis porque permanece convosco e está em vós (Jo.14,15-17). O Espírito Santo está “convosco” e está “em vós”. A pessoa que foi batizada pela Igreja Católica e está em estado de graça é templo da Trindade; portanto, nesta pessoa, o Espírito Santo age por dentro, induzindo-a a santificar-se sempre mais (“em vós”). A pessoa que não foi batizada pela Igreja Católica ou, após ter sido batizada, cometeu pecado mortal, enquanto permanece em pecado mortal, não é templo da Trindade, já que Deus não convive com o pecado; nesta pessoa, o Espírito Santo age por fora (“convosco”), tentando induzi-la a procurar o batismo ou o sacramento da penitência para libertar-se do pecado mortal e tornar-se templo da Santíssima Trindade.

No dia de Pentecostes, as duas diferentes maneiras de agir do Espírito Santo se manifestaram: uma forte ventania, apesar de forte inofensiva, foi percebida por todos os habitantes e peregrinos que estavam em Jerusalém: o Espírito Santo se manifestou a todos os habitantes e peregrinos que estavam em Jerusalém (“convosco”), mas não entrou em nenhum deles. A ventania inofensiva que, apesar de forte, não destelhou casas e nem derrubou árvores, se concentrou sobre o cenáculo onde se encontravam os apóstolos juntamente com Maria: nestes o Espírito Santo entrou (“em vós”): 1 Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2 De repente veio do céu um ruído, como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa em que estavam sentados. 3 E viram, então, uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e foram pousar sobre cada um deles. 4 Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia (At.2,1-4).

Os peregrinos e habitantes de Jerusalém que ainda não tinham sido batizados foram induzidos a ir para o cenáculo onde a ventania se concentrou: nestes o Espírito Santo agiu por fora, induzindo-os a procurar os apóstolos dos quais receberiam o anúncio do Evangelho e o batismo: 5 Estavam em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu. 6 Ouvindo aquele ruído, acorreu muita gente e se maravilhava de que cada um os ouvisse falar em sua própria língua. 7 Profundamente impressionados, manifestavam sua admiração, dizendo: “Não são porventura galileus todos os que falam? 8 Como, então, todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? 9 Partos, medos, elamitas, os que habitam a Mesopotâmia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, 10 a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia, próximas de Cirene, peregrinos romanos, 11 judeus ou prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus (At.2,,5-11).

O primeiro e principal objetivo de cada pessoa deve ser a própria salvação. Jesus conferiu aos apóstolos a missão de anunciar o Evangelho para transformar as pessoas em “discípulos” dele, “batizá-las” e “ensinar-lhes” tudo aquilo que Ele mesmo tinha mandado ensinar: 18 Então Jesus se aproximou e lhes disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. 19 Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo , 20 ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei (Mt.28,18-20). Ao ser batizado, o indivíduo recebe do Espírito Santo os sete dons de santificação pessoal: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Estes dons servem para induzir o indivíduo a crescer em santidade durante toda a vida.

Para ser fiel ao batismo, o indivíduo deve também preocupar-se com a salvação e santificação dos demais. Por isto, o Espírito Santo infunde em cada pessoa batizada pela Igreja Católica e que vive em estado de graça dons carismáticos de acordo com a missão que o Pai determinou para cada um dos seus filhos na terra. Os dons carismáticos são instrumentos de trabalho e são conferidos pelo Espírito Santo a cada pessoa batizada que vive em estado de graça para ajudá-la a cumprir melhor a sua missão na terra. Os dons carismáticos são muitos e surgem novos dons à medida em que a humanidade evolui. Antes de inventarem o rádio e a televisão, o Espírito Santo não infundia em ninguém o dom de evangelizar pelo rádio e televisão. Com o surgimento do rádio e televisão, o Espírito Santo infunde em algumas pessoas o dom de anunciar o Evangelho através destes meios de comunicação.

Todos os dons carismáticos são gratuitos e distribuídos pelo Espírito Santo: 11 Todas estas coisas as realiza um e o mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer (1Cor.12,11). Como a pessoa batizada pela Igreja Católica e que vive em estado de graça é templo da Trindade, os dons carismáticos se dividem em três grupos de acordo com a função de cada uma das pessoas Santíssima Trindade. Os dons carismáticos propriamente ditos (por ex.: o dom de falar em línguas) são atribuídos ao Espírito Santo: 4 Há diversidade de dons mas um mesmo é o Espírito (1Cor.12,4). Os ministérios (por ex.: a administração dos bens materiais da Igreja) são atribuídos a Jesus: 5 Há diversidade de ministérios mas um mesmo é o Senhor (Jesus) (1Cor.12,5). As operações (por ex.: curas e milagres) são atribuídos ao Pai: 6 Há diferentes atividades mas um mesmo é Deus (Pai) que realiza todas as coisas em todos (1Cor.12,6). Os dons carismáticos não têm a função de beneficiar a pessoa que os recebe, mas são instrumentos com os quais a pessoa que os exerce colabora para a conversão e salvação dos outros. Os dons carismáticos são distribuídos pelo Espírito Santo para pessoas por Ele escolhidas para estas pessoas possam servir melhor a comunidade a que pertencem.

O primeiro passo para a salvação e santificação é a libertação dos pecados cometidos. Para que aqueles que cometessem pecados após o batismo pudessem se libertar deles e voltar ao estado de graça, Jesus instituiu o sacramento da penitência. Antes de conferir aos apóstolos o poder de perdoar os pecados, Jesus soprou neles infundindo-lhes o Espírito Santo: 22 Após essas palavras, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados serão perdoados. A quem não perdoardes os pecados não serão perdoados” (Jô.20,22-23). Os pecados são perdoados pelo Pai, mas quem move o pecador a se arrepender e procurar o perdão sacramental dos pecados é o Espírito Santo, assim como é o Espírito Santo que move o ministro ordenado a distribuir o perdão de Deus.

CORPUS CHRISTI

Dt.8,2-3.14b-16ª / 1Cor.10,16-17 / Jo.6,51-58

O nosso corpo é feito da comida que comemos. O corpo de Jesus, antes da ressurreição, também era feito da comida que Ele comia. Quando Jesus comia pão, o sistema digestivo dele transformava o pão em sua carne automaticamente sem milagre. Portanto, transformar pão em carne é um procedimento natural que pode ser feito tanto pelo homem como por um animal sem nenhum milagre. Na última ceia, Jesus não comeu o pão, o transformou em sua carne fora do estômago. Ali está o milagre da Eucaristia: transformar pão na carne de Jesus instantaneamente fora do estômago.

Após a consagração, aquilo que antes era pão se transforma em Jesus ressuscitado: corpo, sangue, alma e divindade. Apesar da transformação, as aparências não mudam e os olhos da carne continuam vendo o mesmo que viam antes da consagração. Após a consagração do pão não vemos Jesus vivo pelos seguintes motivos:
1. Não somos totalmente puros.
2. Algumas pessoas poderiam ter repugnância em engolir um homem vivo, mesmo que esse homem se tornasse pequeno como um comprimido e pudesse passar pela garganta.

1. Jesus disse que os puros de coração verão Deus: 8 Felizes os puros de coração, porque verão a Deus (Mt.5,8). A pureza à qual Jesus se refere não se restringe apenas à pureza moral mas também ao desapego total de tudo aquilo que está neste mundo. Quem tem apego a si mesmo, a pessoas ou a bens deste mundo não é totalmente puro perante Deus, o qual deve ser amado acima de tudo. Abraão viu Deus, mas ele era tão desapegado que, quando Deus lhe pediu que sacrificasse seu filho Isaac, ele se prontificou a obedecer. Se as pessoas batizadas pela Igreja Católica e que estão livres de pecado mortais quiserem saber se, ao morrer, passarão pelo purgatório antes de entrar no céu, basta que olhem para uma hóstia consagrada: se enxergarem o mesmo que viam antes da consagração não estão completamente puras perante Deus e, se morrerem sem se purificar totalmente, deverão passar pelo purgatório antes de entrar no céu.
2. Se após a consagração, a hóstia fosse vista por todos como um pedaço de carne pingando sangue, sabendo que é carne humana, muitos teriam nojo de engoli-la. Se, após a consagração, em vez de uma hóstia, todos visse um homem vivo do tamanho de um comprimido que pudesse ser facilmente ingerido, muitos não teriam coragem de engoli-lo, sabendo que, ao ser engolido, morreria dentro do estômago.

A missa é um sacrifício. Jesus, morrendo na cruz, derramou seu sangue na terra. Derramando seu sangue na terra, produziu os méritos infinitos com os quais toda a humanidade pode ser salva. Aquele que comunga engole Jesus vivo. Apesar de ser Jesus vivo, uma hóstia consagrada ainda conserva a aparência e forma de pão. Assim que o sistema digestivo destrói a forma de pão, Jesus é sacrificado dentro da pessoa que o engoliu. Se, numa missa, ninguém comungasse, nem mesmo o padre, não seria missa porque não teria havido a morte de Jesus.

Uma gaivota mergulha, apanha e engole um peixinho vivo. O peixe morre dentro do estômago da gaivota e se torna carne e sangue da gaivota. Quem comunga, engole Jesus vivo e assimila a carne e o sangue de Jesus. Por isto todos aqueles que acreditam na presença real de Jesus na Eucaristia e a recebem em estado de graça devem formar uma unidade: 16 O cálice de bênção que benzemos não é ele a comunhão do sangue de Cristo? E o pão que partimos não é ele a comunhão do corpo de Cristo? 17 Porque somos um só pão e um só corpo apesar de muitos, pois todos participamos desse único pão (1Cor.10,16-17). O corpo da gaivota é feito da carne dos peixes que ele comeu. As células que atualmente pertencem a uma gaivota antes pertenceram aos peixes que ela comeu. O pão e o vinho consagrados são realmente o corpo e o sangue de Jesus. Comendo o corpo e bebendo o sangue de Jesus, células físicas que realmente pertenceram ao corpo de Jesus passam a fazer parte do nosso corpo da mesma forma que, quando comemos carne de frango, células físicas que pertenceram ao frango passam a fazer parte do nosso corpo. Como todos aqueles que recebem dignamente a Eucaristia passam a ter, em seu corpo, células que pertenceram ao corpo de Jesus, todos devem formar uma unidade: 56 Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. 57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também quem comer de minha carne viverá por mim (Jo.6,56-57).

Deus enviou Moisés para o Egito para libertar o povo hebreu e levá-lo através do deserto para Canaã. A travessia do deserto com um grupo numeroso era possível mas, do ponto de vista humano, muito difícil. Deus colaborou com Moisés, enviando-lhe o maná e codornizes. Mas tanto o maná como as codornizes eram um alimento material que serviu para ajudar os hebreus a alcançar um objetivo material: a posse da terra de Canaã. Jesus diz que o pão vivo que o Pai dá é superior ao maná: 58 Este é o pão descido do céu. Não é como o pão que vossos pais comeram e, ainda assim, morreram. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo.6,58). O maná era matéria comum. Uma hóstia consagrada é Jesus vivo. A finalidade do maná era chegar à terra de Canaã. Quem come o corpo de Jesus e bebe o seu sangue tem por objetivo chegar à casa do Pai.

Durante a travessia do deserto, ninguém foi obrigado a comer o maná e a carne das codornizes. Mas quem se recusou a comer o alimento enviado por Deus morreu de fome. Uma hóstia consagrada é o próprio Jesus enviado pelo Pai: 51 Eu sou o pão vivo descido do céu. Se alguém comer deste pão viverá para sempre. E o pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo.6,51). Quem não acreditar que uma hóstia consagrada é Jesus vivo ou, apesar de acreditar, se recusar a comê-la, ou a comer em pecado mortal, não chegará à casa do Pai: 53 Jesus lhes disse: “Na verdade eu vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia (Jô.6,53-54). A afirmação de Jesus é categórica: não se salva quem não come a carne dele e bebe o seu sangue em estado de graça. Se Jesus tivesse dito apenas “quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna”, poderíamos supor que este é um meio para se salvar mas que pode haver outros. Dizendo “ quem não come a minha carne e não bebe o meu sangue não tem a vida”, Jesus exclui que alguém que não acredita na sua presença real na Eucaristia, se recusa a recebê-la ou a recebe em pecado moral possa salvar-se

MÃE DE DEUS

Nm.6,22-27 / Gl.4,4-7 / Lc.2,16-21

No primeiro dia do ano, a Igreja pede que reflitamos sobre a figura de Maria como portadora da paz. Ao trazer Jesus, Maria indicou um caminho seguro tanto para a paz interior como para a paz entre as nações. Como Deus, Jesus tinha plenos poderes e podia impor o que quisesse a quem quisesse. No entanto, nem mesmo para proteger os próprios pais e a si mesmo, Jesus usou seus poderes. Quando Herodes tentou matá-lo, não reagiu o que os obrigou a abandonar tudo e fugir para o Egito. Jesus traz a paz, mas não obriga ninguém a aceitá-la; não impôs a paz nem mesmo para aqueles que o perseguiram.

A primeira paz a ser procurada é paz interior, a paz do espírito, a qual não depende de fatores externos. Mesmo num país em guerra ou apesar de viver numa região dominada por traficantes, é possível a alguém estar em paz. A paz interior depende da fidelidade a Deus. Maria e José, apesar de serem perseguidos e serem forçados a passar os primeiros anos de casados em fuga, sempre estiveram em paz, porque sempre foram fiéis a Deus. Nós também podemos viver em paz, apesar da violência que tomou conta do nosso país. Basta tornar-se filho de Deus.

Antes da vinda de Jesus, nenhuma criatura humana podia tornar-se filha adotiva de Deus. Jesus, o Filho único de Deus, deu a todos o poder de tornarem-se filhos adotivos de Deus: 12 Mas a todos que a receberam, aos que crêem em seu nome, deu o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo.1,12). Todos os seres humanos são criaturas de Deus. Com a encarnação, morte na cruz e ressurreição, Jesus não tornou ninguém filho de Deus, mas deu a todos o poder de se tornar filhos adotivos de Deus.

Após criar Adão. Deus soprou nele, infundindo-lhe um princípio eterno. Assim, Adão passou de simples criatura para filho adotivo de Deus. Ao tornar-se filho de Deus, Adão não perdeu a liberdade e podia voltar-se contra o próprio Deus. Como não se pode obedecer a dois senhores (Cf.Mt.6,24), ao obedecer a satanás no paraíso terrestre, Adão se tornou escravo de satanás.

O filho pode deixar a casa quando quiser, mas o escravo só pode deixar a casa se alguém o libertar. Jesus pagou o resgate para todos: 4 Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e foi submetido a uma Lei, 5 para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção (Gl.4,4-5). O fato de Jesus ter pago o resgate para todos não significa que todos se tornaram filhos adotivos de Deus. Todos continuam livres para aceitar ou não a filiação divina. Um pequeno resto, através dos sacramentos instituídos por Jesus e confiados exclusivamente à Igreja Católica, se liberta dos pecados, deixa de ser escravo de satanás, e se torna filho de Deus. Estes, como os membros da comunidade dos gálatas, podem chamar Deus de Pai: 6 E, como prova de serdes filhos, Deus enviou a nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: “Abba, Pai!”7 De maneira que já não és escravo mas filho, e, se filho, herdeiro por Deus (Gl.4,6-7). Quem é verdadeiro filho, mesmo que adotivo, é também herdeiro. Somos, portanto, herdeiros de Deus. A herança que o Pai nos dá é um lugar em sua casa.

Foi através de Maria que Jesus assumiu um corpo, através do qual pôde morrer na cruz e produzir os méritos infinitos com os quais nós fomos resgatados. Mas, apesar de termos certeza que um dia iremos morrer e apesar dos sofrimentos pelos quais somos forçados a passar durante esta vida, a certeza de termos um lugar reservado na casa do Pai traz paz para o nosso espírito. Ao trazer Jesus, Maria trouxe paz para nós.

No mundo não há paz, porque a maioria das pessoas, sem excluir grande parte daqueles que se dizem cristãos, não são filhos de Deus. Se fosse possível tornar filhos adotivos de Deus uma porcentagem altíssima dos seres humanos em todos os países, haveria paz também entre os povos. A paz entre os povos depende da aceitação da verdade revelada por Jesus. Quem se submete à verdade revelada por Jesus abandona a mentira, o egoísmo, a soberba e a prepotência e procura a concórdia e a caridade. A paz que Jesus veio trazer está diretamente ligada à conversão. Não há paz entre os povos, porque há poucas pessoas que praticam com fidelidade os ensinamentos de Jesus. Jesus não combateu as guerras, mas concentrou seus esforços na conversão do seu povo. Se os judeus tivessem aceitado Jesus e posto em prática os seus ensinamentos teriam alcançado, além da paz interior, também paz para o país. Rejeitando Jesus e a sua doutrina, rejeitaram também a paz e a salvação

10º DOMINGO COMUM

Os.6, 3-6 / Rm.4,18-25 / Mt.9,9-13

Deus é perfeito. Sendo perfeito, é misericordioso: 36 Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso (Lc.6,36). Quem quer fazer parte da família de Deus que é misericordioso deve tornar-se misericordioso. O profeta Oséias notava que grande parte dos judeus do tempo dele dava ofertas para o templo e oferecia animais para serem imolados em honra a Deus, mas não se convertia. Apesar de oferecerem holocaustos a Javé, continuavam praticando as mesmas perversidades que os pagãos praticavam; externamente demonstravam algum tipo de religiosidade, mas eram mesquinhos, perversos e hipócritas, porque o coração deles não estava voltado para Deus. Mateus no capítulo nove e doze do Evangelho cita apenas o versículo seis desta profecia de Oséias, mas a profecia se estende por todo o capítulo seis (Os.6,1-11). Na época, havia dificuldade para escrever, porque o material era muito caro e, como a Bíblia não estava dividida em capítulos e versículos, não dava para indicar onde se encontrava, na Bíblia, um determinado trecho a não ser citando uma frase. Para referir-se à profecia de Oséias, Mateus citou somente uma frase. Jesus, porém, ao responder às críticas dos fariseus, deve ter citado a profecia inteira, isto é, todo o capítulo seis de Oséias.

No capítulo seis, Oséias chama o povo à conversão: 4Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que cedo desaparece (Os.6,4). A religião deles era superficial como orvalho da manhã que seca logo após o nascer do sol. Deus pedia a conversão e o povo se limitava a demonstrar uma religiosidade superficial que se restringia a oferecer animais para serem sacrificados no templo: 6 Porque eu quero misericórdia e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais que holocaustos (os.6,6). Como Mateus, no Evangelho, citou a frase isolada, há uma tendência a distorcer o sentido desta frase, achando que Deus é misericordioso e, por isto, não é necessário fazer sacrifícios, mas não é isto que Oséias diz. A palavra misericórdia, nesta frase, não é atribuída a Deus, mas às pessoas que quiserem ser fiéis a Deus. São as pessoas que desejam salvar-se que devem ter um coração voltado para Deus, que devem ser compassivas e misericordiosas, se quisessem que as suas ofertas tenham algum valor perante Deus. Analisando o resto do capítulo seis, ao longo do qual a profecia se estende, se percebe que Oséias reprova a falta de misericórdia do povo que, apesar de apresentar-se como religioso, era infiel: 7Mas eles violaram a aliança em Adam, lá me foram infiéis. 8Galaad é uma cidade de malfeitores, com marcas de sangue (Os.6,7-8). Os próprios sacerdotes que incentivavam a doação de ofertas e sacrificavam os animais recebidos do povo eram hipócritas e ladrões: 9Bandidos em emboscada, assim é o bando de sacerdotes. Eles matam no caminho de Siquém; sim, eles praticam a ignomínia! (Os.6,9). É inevitável que, numa organização boa, se infiltrem pessoas perversas com o objetivo de tirar algum proveito, mas Oséias tinha notado que a maioria dos sacerdotes e do povo de Deus se tinha pervertido: 10Na casa de Israel vi uma coisa horrível: ali se prostitui Efraim, contamina-se Israel. 11Também para ti, Judá, há uma colheita, quando eu mudar a sorte de meu povo (Os.6,10-11).

A situação religiosa constatada por Oséias, séculos depois, foi constada também por Jesus. Os sacerdotes do templo de Jerusalém e os chefes de sinagogas espalhados por todo Israel se tinham tornado profissionais da religião; não eram fiéis na observância das suas obrigações religiosas mas viviam às custas do povo que, em sua maioria, também não tinha convicções e se restringia a dar algumas migalhas para a igreja. Desde que tinham o necessário para viver, os sacerdotes e chefes das sinagogas não se preocupavam com vida espiritual do rebanho que lhes era confiado.

Jesus procurava pessoas dispostas a assumir suas obrigações espirituais para com Deus, pessoas que, antes de tudo, se submetessem à vontade de Deus e, como conseqüência da conversão, passassem a cumprir certas obrigações externas exigidas pela igreja. Quando os fariseus notaram que certas pessoas que não cumpriam algumas exigências externas impostas pela estrutura eclesiástica estavam aderindo aos apelos de Jesus o criticaram: 10 E aconteceu que, enquanto estava em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e se assentaram com Jesus e os discípulos. 11 Vendo isso, os fariseus disseram aos discípulos: “Por que vosso mestre come junto com cobradores de impostos e pecadores?” (Mt.9,10-11). Jesus estava preocupado com a salvação das almas que depende primeiramente da fidelidade a Deus. As expressões externas da fé são importantes e necessárias, mas têm valor para a salvação somente se forem resultado de uma vida vivida de acordo com a vontade de Deus. Por isto, Jesus citou a profecia de Oséias que retratava uma situação semelhante. Como Mateus tinha por objetivo apenas indicar a profecia citada por Jesus, reproduziu somente o versículo seis (Os.6,6): 12 E ele, que os ouvira, respondeu-lhes: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, e sim os enfermos. 13 Ide e aprendei o que significam as palavras: Quero misericórdia e não sacrifícios. Porque não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (Mt.9,12-13).

Como ninguém está isento de pecado, todos são pecadores. Jesus veio chamar a todos, inclusive os fariseus que se julgavam justos. Mas, para responder ao chamado de Jesus, é necessário que a pessoa admita ser pecadora. Como os fariseus não admitiam que eram pecadores, não se arrependiam dos pecados cometidos e impediam Jesus de perdoá-los.

Hoje a Igreja está repleta de católicos de fachada que abandonaram completamente suas obrigações espirituais para com Deus, mas compram alguns serviços na sacristia das paróquias como o matrimônio, o batismo para os filhos e missas para parentes falecidos que, durante a vida, nada fizeram para salvar as almas. A maioria dos padres se compraz em vender esses serviços sem se preocupar com a salvação das almas dos compradores que parafraseando o ex-cardeal de São Paulo “são católicos à moda deles” e até afirmou ter dado a Eucaristia a um deles, mas não passam de uma corja de hipócritas. Tais eclesiásticos sabem que os sacramentos que estão distribuindo são sacrílegos e que não servem para a salvação daqueles que os pedem, mas para a condenação. Mesmo assim, os distribuem por causa do efêmero prestígio e do mísero retorno financeiro tais serviços geram. Para estes eclesiásticos aplica-se literalmente aquilo que o profeta Oséias disse a respeito dos eclesiásticos seus contemporâneos: 9Bandidos em emboscada, assim é o bando de sacerdotes (Os.6,9ª). Ao prestar contas a Deus, tanto os eclesiásticos que distribuem sacramentos sacrílegos como os católicos de fachada que os pedem serão tratados com mais rigor do que aqueles contra os quais profetizou Oséias.

VISITA DO PAPA AO BRASIL

Queridos amigos e amigas,Eis-me finalmente na Fazenda Esperança!
1. Com particular afeto, saúdo ao Frei Hans Stapel, Fundador da Obra Social Nossa Senhora da Glória, também conhecida como Fazenda da Esperança. Desejo desde já congratular-me com todos vocês, por terem acreditado num ideal de bem e de paz que este lugar significa.
A todos que se encontram em fase de recuperação, bem como aos reabilitados, voluntários, famílias, ex-internos e benfeitores de todas as fazendas representadas nesta ocasião para encontrar-se com o Papa, digo: Paz e Bem!
Sei que aqui se encontram reunidos os representantes de diversos países, onde a Fazenda da Esperança possui sedes. Viestes ver o Papa. Viestes para ouvir e assimilar o que ele vos queria dizer.
2. A Igreja de hoje deve reavivar em si mesma a consciência da tarefa de repropor ao mundo a voz d’Aquele que disse: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8,12). Por sua vez, a tarefa do Papa é renovar nos corações essa luz que não ofusca, pois quer iluminar o íntimo das almas que buscam o verdadeiro bem e a paz, que o mundo não pode dar. Um fulgor como este, só necessita de um coração aberto aos anseios divinos. Deus não força, não oprime a liberdade individual; pede só abertura daquele sacrário da nossa consciência por donde passam todas as aspirações mais nobres, mas também afetos e paixões desordenadas que ofuscam a mensagem do Altíssimo.
3. «Eis que estou à porta, e bato: Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo» (Ap 3,20). São palavras divinas que tocam o fundo da alma e que removem até as suas raízes mais profundas.
A um certo momento da vida, Jesus vem e toca, com suaves batidas, no fundo dos corações bem dispostos. A vocês, Ele o fez através de uma pessoa amiga ou de um sacerdote ou, possivelmente, providenciou uma série de coincidências para dizer que sois objeto de predileção divina. Mediante a instituição que os abriga, o Senhor proporcionou esta experiência de recuperação física e espiritual de vital importância para vocês e seus familiares. Além disso, a sociedade espera que saibam divulgar este bem precioso da saúde entre os amigos e membros de toda a comunidade.
Vocês devem ser os embaixadores da esperança! O Brasil possui uma estatística, das mais relevantes, no que diz respeito à dependência química de drogas e entorpecentes. E a América Latina não fica atrás. Por isso, digo aos que comercializam a droga que pensem no mal que estão provocando a uma multidão de jovens e de adultos de todos os segmentos da sociedade: Deus vai-lhes exigir satisfações. A dignidade humana não pode ser espezinhada desta maneira. O mal provocado recebe a mesma reprovação dada por Jesus aos que escandalizavam os “pequeninos”, os preferidos de Deus (cf. Mt 18, 7-10).
4. Mediante uma terapia, que inclui a assistência médica, psicológica e pedagógica, mas também muita oração, trabalho manual e disciplina, já são numerosas as pessoas, sobretudo jovens, que conseguiram livrar-se da dependência química e do álcool e recuperar o sentido da vida.
Desejo manifestar o meu apreço por esta Obra, que tem como alicerce espiritual o carisma de São Francisco e a espiritualidade do Movimento dos Focolares.
A reinserção na sociedade constitui, sem dúvida, uma prova da eficácia da iniciativa de vocês. Mas o que mais chama atenção, e confirma a validade do trabalho, são as conversões, o reencontro com Deus e a participação ativa na vida da Igreja. Não basta curar o corpo, é preciso adornar a alma com os mais preciosos dons divinos conquistados através do Batismo.
Vamos agradecer a Deus por ter querido colocar tantas almas no caminho de uma esperança renovada, com o auxílio do Sacramento do perdão e da celebração da Eucaristia.
5. Queridos amigos, não poderia deixar passar esta oportunidade para agradecer também a todos os que colaboram material ou espiritualmente para dar continuidade à Obra Social Nossa Senhora da Glória. Que Deus abençoe Frei Hans Stapel e Nelson Giovanelli Ros por terem acolhido o convite d'Ele para dedicarem sua vida a vocês. Abençoe também todos os que trabalham nesta Obra: os consagrados e as consagradas; os voluntários e as voluntárias. Uma Bênção especial vai para todas as pessoas amigas que a sustentam: autoridades, grupos de apoio e todos que amam a Cristo presente nestes seus filhos prediletos.
Meu pensamento vai agora a muitas outras instituições do mundo inteiro que trabalham para restituir a vida, e vida nova, a estes nossos irmãos presentes na nossa sociedade, e que Deus ama com um amor preferencial. Penso também nos muitos grupos de Alcoólicos Anônimos e de Narcóticos Anônimos, e na Pastoral da Sobriedade que já trabalha em muitas comunidades, prestando seus generosos auxílios em favor da vida.
6. A proximidade do Santuário de Aparecida nos assegura que a Fazenda da Esperança nasceu sob as suas bênçãos e o seu olhar maternal. Há muito que venho pedindo à Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil, que estenda seu manto protetor sobre os que participarão na V (Quinta) Conferencia Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. A presença de vocês aqui, supõe uma ajuda considerável para o sucesso desta grande assembléia; ponham suas orações, sacrifícios e renúncias no altar da Capela, certos de que, no Santo Sacrifício do Altar, estas ofertas subirão aos céus como um suave aroma na presença do Altíssimo. Conto com a ajuda de vocês. Que o Santo Frei Galvão e Santa Crescência amparem e protejam a cada um. A todos vocês abençôo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

VISITA DO PAPA AO BRASIL

Queridos Irmãos no Episcopado, amados sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos. Queridos observadores de outras confissões religiosas:
Es motivo de gran alegría estar hoy aquí con vosotros para inaugurar la V Conferencia General del Episcopado Latinoamericano y del Caribe, que se celebra junto al Santuario de Nuestra Señora Aparecida, Patrona del Brasil. Quiero que mis primeras palabras sean de acción de gracias y de alabanza a Dios por el gran don de la fe cristiana a las gentes de este Continente.
Deseo agradecer también las amables palabras del Señor Cardenal Francisco Javier Errázuriz Ossa, Arzobispo de Santiago de Chile y Presidente del CELAM, pronunciadas en nombre del ex-Presidente y de los participantes en esta Conferencia General.
1. La fe cristiana en América Latina
La fe en Dios ha animado la vida y la cultura de estos pueblos durante más de cinco siglos. Del encuentro de esa fe con las etnias originarias ha nacido la rica cultura cristiana de este Continente expresada en el arte, la música, la literatura y, sobre todo, en las tradiciones religiosas y en la idiosincrasia de sus gentes, unidas por una misma historia y un mismo credo, y formando una gran sintonía en la diversidad de culturas y de lenguas. En la actualidad, esa misma fe ha de afrontar serios retos, pues están en juego el desarrollo armónico de la sociedad y la identidad católica de sus pueblos. A este respecto, la V Conferencia General va a reflexionar sobre esta situación para ayudar a los fieles cristianos a vivir su fe con alegría y coherencia, a tomar conciencia de ser discípulos y misioneros de Cristo, enviados por Él al mundo para anunciar y dar testimonio de nuestra fe y amor.
Pero, ¿qué ha significado la aceptación de la fe cristiana para los pueblos de América Latina y del Caribe? Para ellos ha significado conocer y acoger a Cristo, el Dios desconocido que sus antepasados, sin saberlo, buscaban en sus ricas tradiciones religiosas. Cristo era el Salvador que anhelaban silenciosamente. Ha significado también haber recibido, con las aguas del bautismo, la vida divina que los hizo hijos de Dios por adopción; haber recibido, además, el Espíritu Santo que ha venido a fecundar sus culturas, purificándolas y desarrollando los numerosos gérmenes y semillas que el Verbo encarnado había puesto en ellas, orientándolas así por los caminos del Evangelio. En efecto, el anuncio de Jesús y de su Evangelio no supuso, en ningún momento, una alienación de las culturas precolombinas, ni fue una imposición de una cultura extraña. Las auténticas culturas no están cerradas en sí mismas ni petrificadas en un determinado punto de la historia, sino que están abiertas, más aún, buscan el encuentro con otras culturas, esperan alcanzar la universalidad en el encuentro y el diálogo con otras formas de vida y con los elementos que puedan llevar a una nueva síntesis en la que se respete siempre la diversidad de las expresiones y de su realización cultural concreta.
En última instancia, sólo la verdad unifica y su prueba es el amor. Por eso Cristo, siendo realmente el Logos encarnado, "el amor hasta el extremo", no es ajeno a cultura alguna ni a ninguna persona; por el contrario, la respuesta anhelada en el corazón de las culturas es lo que les da su identidad última, uniendo a la humanidad y respetando a la vez la riqueza de las diversidades, abriendo a todos al crecimiento en la verdadera humanización, en el auténtico progreso. El Verbo de Dios, haciéndose carne en Jesucristo, se hizo también historia y cultura.
La utopía de volver a dar vida a las religiones precolombinas, separándolas de Cristo y de la Iglesia universal, no sería un progreso, sino un retroceso. En realidad sería una involución hacia un momento histórico anclado en el pasado.
La sabiduría de los pueblos originarios les llevó afortunadamente a formar una síntesis entre sus culturas y la fe cristiana que los misioneros les ofrecían. De allí ha nacido la rica y profunda religiosidad popular, en la cual aparece el alma de los pueblos latinoamericanos:
- El amor a Cristo sufriente, el Dios de la compasión, del perdón y de la reconciliación; el Dios que nos ha amado hasta entregarse por nosotros;
- El amor al Señor presente en la Eucaristía, el Dios encarnado, muerto y resucitado para ser Pan de Vida;
- El Dios cercano a los pobres y a los que sufren;
- La profunda devoción a la Santísima Virgen de Guadalupe, de Aparecida o de las diversas advocaciones nacionales y locales. Cuando la Virgen de Guadalupe se apareció al indio san Juan Diego le dijo estas significativas palabras: "¿No estoy yo aquí que soy tu madre?, ¿no estás bajo mi sombra y resguardo?, ¿no soy yo la fuente de tu alegría?, ¿no estás en el hueco de mi manto, en el cruce de mis brazos?" (Nican Mopohua, nn. 118-119 ).
Esta religiosidad se expresa también en la devoción a los santos con sus fiestas patronales, en el amor al Papa y a los demás Pastores, en el amor a la Iglesia universal como gran familia de Dios que nunca puede ni debe dejar solos o en la miseria a sus propios hijos. Todo ello forma el gran mosaico de la religiosidad popular que es el precioso tesoro de la Iglesia católica en América Latina, y que ella debe proteger, promover y, en lo que fuera necesario, también purificar.
2. Continuidad con las otras Conferencias
Esta V Conferencia General se celebra en continuidad con las otras cuatro que la precedieron en Río de Janeiro, Medellín, Puebla y Santo Domingo. Con el mismo espíritu que las animó, los Pastores quieren dar ahora un nuevo impulso a la evangelización, a fin de que estos pueblos sigan creciendo y madurando en su fe, para ser luz del mundo y testigos de Jesucristo con la propia vida.
Después de la IV Conferencia General, en Santo Domingo, muchas cosas han cambiado en la sociedad. La Iglesia, que participa de los gozos y esperanzas, de las penas y alegrías de sus hijos, quiere caminar a su lado en este período de tantos desafíos, para infundirles siempre esperanza y consuelo (cf. Gaudium et spes, 1).
En el mundo de hoy se da el fenómeno de la globalización como un entramado de relaciones a nivel planetario. Aunque en ciertos aspectos es un logro de la gran familia humana y una señal de su profunda aspiración a la unidad, sin embargo comporta también el riesgo de los grandes monopolios y de convertir el lucro en valor supremo. Como en todos los campos de la actividad humana, la globalización debe regirse también por la ética, poniendo todo al servicio de la persona humana, creada a imagen y semejanza de Dios.
En América Latina y el Caribe, igual que en otras regiones, se ha evolucionado hacia la democracia, aunque haya motivos de preocupación ante formas de gobierno autoritarias o sujetas a ciertas ideologías que se creían superadas, y que no corresponden con la visión cristiana del hombre y de la sociedad, como nos enseña la Doctrina social de la Iglesia. Por otra parte, la economía liberal de algunos países latinoamericanos ha de tener presente la equidad, pues siguen aumentando los sectores sociales que se ven probados cada vez más por una enorme pobreza o incluso expoliados de los propios bienes naturales.
En las Comunidades eclesiales de América Latina es notable la madurez en la fe de muchos laicos y laicas activos y entregados al Señor, junto con la presencia de muchos abnegados catequistas, de tantos jóvenes, de nuevos movimientos eclesiales y de recientes Institutos de vida consagrada. Se demuestran fundamentales muchas obras católicas educativas, asistenciales y hospitalitarias. Se percibe, sin embargo, un cierto debilitamiento de la vida cristiana en el conjunto de la sociedad y de la propia pertenencia a la Iglesia católica debido al secularismo, al hedonismo, al indiferentismo y al proselitismo de numerosas sectas, de religiones animistas y de nuevas expresiones seudoreligiosas.
Todo ello configura una situación nueva que será analizada aquí, en Aparecida. Ante la nueva encrucijada, los fieles esperan de esta V Conferencia una renovación y revitalización de su fe en Cristo, nuestro único Maestro y Salvador, que nos ha revelado la experiencia única del Amor infinito de Dios Padre a los hombres. De esta fuente podrán surgir nuevos caminos y proyectos pastorales creativos, que infundan una firme esperanza para vivir de manera responsable y gozosa la fe e irradiarla así en el propio ambiente.
3. Discípulos y misioneros
Esta Conferencia General tiene como tema: "Discípulos y misioneros de Jesucristo, para que nuestros pueblos en Él tengan vida" (Jn 14, 6).
La Iglesia tiene la gran tarea de custodiar y alimentar la fe del Pueblo de Dios, y recordar también a los fieles de este Continente que, en virtud de su bautismo, están llamados a ser discípulos y misioneros de Jesucristo. Esto conlleva seguirlo, vivir en intimidad con Él, imitar su ejemplo y dar testimonio. Todo bautizado recibe de Cristo, como los Apóstoles, el mandato de la misión: "Id por todo el mundo y proclamad la Buena Nueva a toda la creación. El que crea y sea bautizado, se salvará" (Mc 16,15). Pues ser discípulos y misioneros de Jesucristo y buscar la vida "en Él" supone estar profundamente enraizados en Él.
¿Qué nos da Cristo realmente?¿Por qué queremos ser discípulos de Cristo? Porque esperamos encontrar en la comunión con Él la vida, la verdadera vida digna de este nombre, y por esto queremos darlo a conocer a los demás, comunicarles el don que hemos hallado en Él. Pero, ¿es esto así? ¿Estamos realmente convencidos de que Cristo es el camino, la verdad y la vida?
Ante la prioridad de la fe en Cristo y de la vida "en Él", formulada en el título de esta V Conferencia, podría surgir también otra cuestión: Esta prioridad, ¿no podría ser acaso una fuga hacia el intimismo, hacia el individualismo religioso, un abandono de la realidad urgente de los grandes problemas económicos, sociales y políticos de América Latina y del mundo, y una fuga de la realidad hacia un mundo espiritual?
Como primer paso podemos responder a esta pregunta con otra: ¿Qué es esta "realidad"? ¿Qué es lo real? ¿Son "realidad" sólo los bienes materiales, los problemas sociales, económicos y políticos? Aquí está precisamente el gran error de las tendencias dominantes en el último siglo, error destructivo, como demuestran los resultados tanto de los sistemas marxistas como incluso de los capitalistas. Falsifican el concepto de realidad con la amputación de la realidad fundante y por esto decisiva, que es Dios. Quien excluye a Dios de su horizonte falsifica el concepto de "realidad" y, en consecuencia, sólo puede terminar en caminos equivocados y con recetas destructivas.
La primera afirmación fundamental es, pues, la siguiente: Sólo quien reconoce a Dios, conoce la realidad y puede responder a ella de modo adecuado y realmente humano. La verdad de esta tesis resulta evidente ante el fracaso de todos los sistemas que ponen a Dios entre paréntesis.
Pero surge inmediatamente otra pregunta: ¿Quién conoce a Dios? ¿Cómo podemos conocerlo? No podemos entrar aquí en un complejo debate sobre esta cuestión fundamental. Para el cristiano el núcleo de la respuesta es simple: Sólo Dios conoce a Dios, sólo su Hijo que es Dios de Dios, Dios verdadero, lo conoce. Y Él, "que está en el seno del Padre, lo ha contado" (Jn 1,18). De aquí la importancia única e insustituible de Cristo para nosotros, para la humanidad. Si no conocemos a Dios en Cristo y con Cristo, toda la realidad se convierte en un enigma indescifrable; no hay camino y, al no haber camino, no hay vida ni verdad.
Dios es la realidad fundante, no un Dios sólo pensado o hipotético, sino el Dios de rostro humano; es el Dios-con-nosotros, el Dios del amor hasta la cruz. Cuando el discípulo llega a la comprensión de este amor de Cristo "hasta el extremo", no puede dejar de responder a este amor sino es con un amor semejante: "Te seguiré adondequiera que vayas" (Lc 9,57).
Todavía nos podemos hacer otra pregunta: ¿Qué nos da la fe en este Dios? La primera respuesta es: nos da una familia, la familia universal de Dios en la Iglesia católica. La fe nos libera del aislamiento del yo, porque nos lleva a la comunión: el encuentro con Dios es, en sí mismo y como tal, encuentro con los hermanos, un acto de convocación, de unificación, de responsabilidad hacia el otro y hacia los demás. En este sentido, la opción preferencial por los pobres está implícita en la fe cristológica en aquel Dios que se ha hecho pobre por nosotros, para enriquecernos con su pobreza (cf. 2 Co 8,9).
Pero antes de afrontar lo que comporta el realismo de la fe en el Dios hecho hombre, tenemos que profundizar en la pregunta: ¿cómo conocer realmente a Cristo para poder seguirlo y vivir con Él, para encontrar la vida en Él y para comunicar esta vida a los demás, a la sociedad y al mundo? Ante todo, Cristo se nos da a conocer en su persona, en su vida y en su doctrina por medio de la Palabra de Dios. Al iniciar la nueva etapa que la Iglesia misionera de America Latina y del Caribe se dispone a emprender, a partir de esta V Conferencia General en Aparecida, es condición indispensable el conocimiento profundo de la Palabra de Dios.
Por esto, hay que educar al pueblo en la lectura y meditación de la Palabra de Dios: que ella se convierta en su alimento para que, por propia experiencia, vean que las palabras de Jesús son espíritu y vida (cf. Jn 6,63). De lo contrario, ¿cómo van a anunciar un mensaje cuyo contenido y espíritu no conocen a fondo? Hemos de fundamentar nuestro compromiso misionero y toda nuestra vida en la roca de la Palabra de Dios. Para ello, animo a los Pastores a esforzarse en darla a conocer.
Un gran medio para introducir al Pueblo de Dios en el misterio de Cristo es la catequesis. En ella se trasmite de forma sencilla y substancial el mensaje de Cristo. Convendrá por tanto intensificar la catequesis y la formación en la fe, tanto de los niños como de los jóvenes y adultos. La reflexión madura de la fe es luz para el camino de la vida y fuerza para ser testigos de Cristo. Para ello se dispone de instrumentos muy valiosos como son el Catecismo de la Iglesia Católica y su versión más breve, el Compendio del Catecismo de la Iglesia Católica.
En este campo no hay que limitarse sólo a las homilías, conferencias, cursos de Biblia o teología, sino que se ha de recurrir también a los medios de comunicación: prensa, radio y televisión, sitios de internet, foros y tantos otros sistemas para comunicar eficazmente el mensaje de Cristo a un gran número de personas.
En este esfuerzo por conocer el mensaje de Cristo y hacerlo guía de la propia vida, hay que recordar que la evangelización ha ido unida siempre a la promoción humana y a la auténtica liberación cristiana. "Amor a Dios y amor al prójimo se funden entre sí: en el más humilde encontramos a Jesús mismo y en Jesús encontramos a Dios" (Deus caritas est, 15). Por lo mismo, será también necesaria una catequesis social y una adecuada formación en la doctrina social de la Iglesia, siendo muy útil para ello el "Compendio de la Doctrina Social de la Iglesia". La vida cristiana no se expresa solamente en las virtudes personales, sino también en las virtudes sociales y políticas.
El discípulo, fundamentado así en la roca de la Palabra de Dios, se siente impulsado a llevar la Buena Nueva de la salvación a sus hermanos. Discipulado y misión son como las dos caras de una misma medalla: cuando el discípulo está enamorado de Cristo, no puede dejar de anunciar al mundo que sólo Él nos salva (cf. Hch 4,12). En efecto, el discípulo sabe que sin Cristo no hay luz, no hay esperanza, no hay amor, no hay futuro.
4. "Para que en Él tengan vida"
Los pueblos latinoamericanos y caribeños tienen derecho a una vida plena, propia de los hijos de Dios, con unas condiciones más humanas: libres de las amenazas del hambre y de toda forma de violencia. Para estos pueblos, sus Pastores han de fomentar una cultura de la vida que permita, como decía mi predecesor Pablo VI, "pasar de la miseria a la posesión de lo necesario, a la adquisición de la cultura… a la cooperación en el bien común… hasta el reconocimiento, por parte del hombre, de los valores supremos y de Dios, que de ellos es la fuente y el fin" (Populorum progressio, 21).
En este contexto me es grato recordar la Encíclica "Populorum progressio", cuyo 40 aniversario recordamos este año. Este documento pontificio pone en evidencia que el desarrollo auténtico ha de ser integral, es decir, orientado a la promoción de todo el hombre y de todos los hombres (cf. n. 14), e invita a todos a suprimir las graves desigualdades sociales y las enormes diferencias en el acceso a los bienes. Estos pueblos anhelan, sobre todo, la plenitud de vida que Cristo nos ha traído: "Yo he venido para que tengan vida y la tengan en abundancia" (Jn 10,10). Con esta vida divina se desarrolla también en plenitud la existencia humana, en su dimensión personal, familiar, social y cultural.
Para formar al discípulo y sostener al misionero en su gran tarea, la Iglesia les ofrece, además del Pan de la Palabra, el Pan de la Eucaristía. A este respecto nos inspira e ilumina la página del Evangelio sobre los discípulos de Emaús. Cuando éstos se sientan a la mesa y reciben de Jesucristo el pan bendecido y partido, se les abren los ojos, descubren el rostro del Resucitado, sienten en su corazón que es verdad todo lo que Él ha dicho y hecho, y que ya ha iniciado la redención del mundo. Cada domingo y cada Eucaristía es un encuentro personal con Cristo. Al escuchar la Palabra divina, el corazón arde porque es Él quien la explica y proclama. Cuando en la Eucaristía se parte el pan, es a Él a quien se recibe personalmente. La Eucaristía es el alimento indispensable para la vida del discípulo y misionero de Cristo.
La Misa dominical, centro de la vida cristiana
De aquí la necesidad de dar prioridad, en los programas pastorales, a la valorización de la Misa dominical. Hemos de motivar a los cristianos para que participen en ella activamente y, si es posible, mejor con la familia. La asistencia de los padres con sus hijos a la celebración eucarística dominical es una pedagogía eficaz para comunicar la fe y un estrecho vínculo que mantiene la unidad entre ellos. El domingo ha significado, a lo largo de la vida de la Iglesia, el momento privilegiado del encuentro de las comunidades con el Señor resucitado.
Es necesario que los cristianos experimenten que no siguen a un personaje de la historia pasada, sino a Cristo vivo, presente en el hoy y el ahora de sus vidas. Él es el Viviente que camina a nuestro lado, descubriéndonos el sentido de los acontecimientos, del dolor y de la muerte, de la alegría y de la fiesta, entrando en nuestras casas y permaneciendo en ellas, alimentándonos con el Pan que da la vida. Por eso la celebración dominical de la Eucaristía ha de ser el centro de la vida cristiana.
El encuentro con Cristo en la Eucaristía suscita el compromiso de la evangelización y el impulso a la solidaridad; despierta en el cristiano el fuerte deseo de anunciar el Evangelio y testimoniarlo en la sociedad para que sea más justa y humana. De la Eucaristía ha brotado a lo largo de los siglos un inmenso caudal de caridad, de participación en las dificultades de los demás, de amor y de justicia. ¡Sólo de la Eucaristía brotará la civilización del amor, que transformará Latinoamérica y el Caribe para que, además de ser el Continente de la Esperanza, sea también el Continente del Amor!
Los problemas sociales y políticos
Llegados a este punto podemos preguntarnos ¿cómo puede contribuir la Iglesia a la solución de los urgentes problemas sociales y políticos, y responder al gran desafío de la pobreza y de la miseria? Los problemas de América Latina y del Caribe, así como del mundo de hoy, son múltiples y complejos, y no se pueden afrontar con programas generales. Sin embargo, la cuestión fundamental sobre el modo cómo la Iglesia, iluminada por la fe en Cristo, deba reaccionar ante estos desafíos, nos concierne a todos. En este contexto es inevitable hablar del problema de las estructuras, sobre todo de las que crean injusticia. En realidad, las estructuras justas son una condición sin la cual no es posible un orden justo en la sociedad. Pero, ¿cómo nacen?, ¿cómo funcionan? Tanto el capitalismo como el marxismo prometieron encontrar el camino para la creación de estructuras justas y afirmaron que éstas, una vez establecidas, funcionarían por sí mismas; afirmaron que no sólo no habrían tenido necesidad de una precedente moralidad individual, sino que ellas fomentarían la moralidad común. Y esta promesa ideológica se ha demostrado que es falsa. Los hechos lo ponen de manifiesto. El sistema marxista, donde ha gobernado, no sólo ha dejado una triste herencia de destrucciones económicas y ecológicas, sino también una dolorosa opresión de las almas. Y lo mismo vemos también en occidente, donde crece constantemente la distancia entre pobres y ricos y se produce una inquietante degradación de la dignidad personal con la droga, el alcohol y los sutiles espejismos de felicidad.
Las estructuras justas son, como he dicho, una condición indispensable para una sociedad justa, pero no nacen ni funcionan sin un consenso moral de la sociedad sobre los valores fundamentales y sobre la necesidad de vivir estos valores con las necesarias renuncias, incluso contra el interés personal.
Donde Dios está ausente – el Dios del rostro humano de Jesucristo – estos valores no se muestran con toda su fuerza, ni se produce un consenso sobre ellos. No quiero decir que los no creyentes no puedan vivir una moralidad elevada y ejemplar; digo solamente que una sociedad en la que Dios está ausente no encuentra el consenso necesario sobre los valores morales y la fuerza para vivir según la pauta de estos valores, aun contra los propios intereses.
Por otro lado, las estructuras justas han de buscarse y elaborarse a la luz de los valores fundamentales, con todo el empeño de la razón política, económica y social. Son una cuestión de la recta ratio y no provienen de ideologías ni de sus promesas. Ciertamente existe un tesoro de experiencias políticas y de conocimientos sobre los problemas sociales y económicos, que evidencian elementos fundamentales de un estado justo y los caminos que se han de evitar. Pero en situaciones culturales y políticas diversas, y en el cambio progresivo de las tecnologías y de la realidad histórica mundial, se han de buscar de manera racional las respuestas adecuadas y debe crearse – con los compromisos indispensables – el consenso sobre las estructuras que se han de establecer.
Este trabajo político no es competencia inmediata de la Iglesia. El respeto de una sana laicidad – incluso con la pluralidad de las posiciones políticas – es esencial en la tradición cristiana. Si la Iglesia comenzara a transformarse directamente en sujeto político, no haría más por los pobres y por la justicia, sino que haría menos, porque perdería su independencia y su autoridad moral, identificándose con una única vía política y con posiciones parciales opinables. La Iglesia es abogada de la justicia y de los pobres, precisamente al no identificarse con los políticos ni con los intereses de partido. Sólo siendo independiente puede enseñar los grandes criterios y los valores inderogables, orientar las conciencias y ofrecer una opción de vida que va más allá del ámbito político. Formar las conciencias, ser abogada de la justicia y de la verdad, educar en las virtudes individuales y políticas, es la vocación fundamental de la Iglesia en este sector. Y los laicos católicos deben ser concientes de su responsabilidad en la vida pública; deben estar presentes en la formación de los consensos necesarios y en la oposición contra las injusticias.
Las estructuras justas jamás serán completas de modo definitivo; por la constante evolución de la historia, han de ser siempre renovadas y actualizadas; han de estar animadas siempre por un "ethos" político y humano, por cuya presencia y eficiencia se ha de trabajar siempre. Con otras palabras, la presencia de Dios, la amistad con el Hijo de Dios encarnado, la luz de su Palabra, son siempre condiciones fundamentales para la presencia y eficiencia de la justicia y del amor en nuestras sociedades.
Por tratarse de un Continente de bautizados, conviene colmar la notable ausencia, en el ámbito político, comunicativo y universitario, de voces e iniciativas de líderes católicos de fuerte personalidad y de vocación abnegada, que sean coherentes con sus convicciones éticas y religiosas. Los movimientos eclesiales tienen aquí un amplio campo para recordar a los laicos su responsabilidad y su misión de llevar la luz del Evangelio a la vida pública, cultural, económica y política.
5. Otros campos prioritarios
Para llevar a cabo la renovación de la Iglesia a vosotros confiada en estas tierras, quisiera fijar la atención con vosotros sobre algunos campos que considero prioritarios en esta nueva etapa.
La familia
La familia, "patrimonio de la humanidad", constituye uno de los tesoros más importantes de los pueblos latinoamericanos. Ella ha sido y es escuela de la fe, palestra de valores humanos y cívicos, hogar en el que la vida humana nace y se acoge generosa y responsablemente. Sin embargo, en la actualidad sufre situaciones adversas provocadas por el secularismo y el relativismo ético, por los diversos flujos migratorios internos y externos, por la pobreza, por la inestabilidad social y por legislaciones civiles contrarias al matrimonio que, al favorecer los anticonceptivos y el aborto, amenazan el futuro de los pueblos.
En algunas familias de América Latina persiste aún por desgracia una mentalidad machista, ignorando la novedad del cristianismo que reconoce y proclama la igual dignidad y responsabilidad de la mujer respecto al hombre.
La familia es insustituible para la serenidad personal y para la educación de los hijos. Las madres que quieren dedicarse plenamente a la educación de sus hijos y al servicio de la familia han de gozar de las condiciones necesarias para poderlo hacer, y para ello tienen derecho a contar con el apoyo del Estado. En efecto, el papel de la madre es fundamental para el futuro de la sociedad.
El padre, por su parte, tiene el deber de ser verdaderamente padre, que ejerce su indispensable responsabilidad y colaboración en la educación de sus hijos. Los hijos, para su crecimiento integral, tienen el derecho de poder contar con el padre y la madre, para que cuiden de ellos y los acompañen hacia la plenitud de su vida. Es necesaria, pues, una pastoral familiar intensa y vigorosa. Es indispensable también promover políticas familiares auténticas que respondan a los derechos de la familia como sujeto social imprescindible. La familia forma parte del bien de los pueblos y de la humanidad entera.
Os sacerdotes
Os primeiros promotores do discipulado e da missão são aqueles que foram chamados «para estar com Jesus e ser enviados a pregar» (cf. Mc 3,14), ou seja, os sacerdotes. Eles devem receber de modo preferencial a atenção e o cuidado paterno dos seus Bispos, pois são os primeiros agentes de uma autentica renovação da vida cristã no povo de Deus. A eles quero dirigir uma palavra de afeto paterno desejando «que o Senhor seja parte da sua herança e do seu cálice» (cf. Sl 16,5). Se o sacerdote fizer de Deus o fundamento e o centro de sua vida, então experimentará a alegria e a fecundidade da sua vocação. O sacerdote deve ser antes de tudo um "homem de Deus" (1Tim 6,11); um homem que conhece a Deus "em primeira mão", que cultiva uma profunda amizade pessoal com Jesus, que compartilha os "sentimentos de Jesus" (cf. Fil 2,5). Somente assim o sacerdote será capaz de levar Deus - o Deus encarnado em Jesus Cristo - aos homens, e de ser representante do seu amor. Para cumprir a sua altíssima missão deve possuir uma sólida estrutura espiritual e viver toda a existência animado pela fé, a esperança e a caridade. Tem de ser, como Jesus, um homem que procure, através da oração, o rosto e a vontade de Deus, cultivando igualmente sua preparação cultural e intelectual.
Queridos sacerdotes deste Continente e quantos que, como missionários, nele viestes a trabalhar: o Papa acompanha vossa atividade pastoral e deseja que estejam repletos de consolações e de esperança, e reza por vocês.
Religiosos, religiosas e consagrados
Quero dirigir-me também aos religiosos, às religiosas e aos leigos e leigas consagrados. A sociedade latino-americana e caribenha tem necessidade do vosso testemunho: em um mundo que tantas vezes busca, sobretudo, o bem-estar, a riqueza e o prazer como finalidade da vida, e que exalta a liberdade prescindindo da verdade do homem criado por Deus, vocês são testemunhas de que existe outra forma de viver com sentido; lembrem aos vossos irmãos e irmãs que o Reino de Deus chegou; que a justiça e a verdade são possíveis se nos abrimos à presença amorosa de Deus nosso Pai, de Cristo nosso irmão e Senhor, do Espírito Santo nosso Consolador. Com generosidade e até ao heroísmo, continuai trabalhando para que na sociedade reine o amor, a justiça, a bondade, o serviço, a solidariedade conforme o carisma dos vossos fundadores. Abraçai com profunda alegria vossa consagração, que é instrumento de santificação para vocês e de redenção para vossos irmãos.
A Igreja da América Latina vos agradece pelo grande trabalho que vindes realizando ao longo dos séculos pelo Evangelho de Cristo a favor de vossos irmãos, principalmente pelos mais pobres e marginalizados. Convido a todos para que colaborem sempre com os Bispos, trabalhando unidos a eles que são os responsáveis pela pastoral. Exorto-vos também a uma obediência sincera à autoridade da Igreja. Não tenham outro ideal que não seja a santidade conforme os ensinamentos de vossos fundadores.
Os leigos
Nesta hora em que a Igreja deste Continente se entrega plenamente à sua vocação missionária, lembro aos leigos que são também Igreja, assembléia convocada por Cristo para levar seu testemunho ao mundo inteiro. Todos os homens e mulheres batizados devem tomar consciência de que foram configurados com Cristo Sacerdote, Profeta e Pastor, através do sacerdócio comum do Povo de Deus. Devem sentir-se co-responsáveis na construção da sociedade segundo os critérios do Evangelho, com entusiasmo e audácia, em comunhão com os seus Pastores.
São muitos os fiéis que pertencem a movimentos eclesiais, nos quais podemos ver os sinais da multiforme presença e ação santificadora do Espírito Santo na Igreja e na sociedade atual. Eles são chamados para levar ao mundo o testemunho de Jesus Cristo e ser fermento do amor de Deus na sociedade.
Os Jovens e a pastoral vocacional
Na América Latina a maioria da população está formada por jovens. A este respeito, devemos recordar-lhes que sua vocação é ser amigos de Cristo, discípulos, sentinelas do amanhã, como costumava dizer o meu Predecessor João Paulo II. Os jovens não temem o sacrifício, mas, sim, uma vida sem sentido. São sensíveis à chamada de Cristo que os convida a segui-Lo. Podem responder a essa chamada como sacerdotes, como consagrados e consagradas, ou ainda como pais e mães de família, dedicados totalmente a servir aos seus irmãos com todo o seu tempo, sua capacidade de entrega e com a vida inteira. Os jovens encaram a existência como uma constante descoberta, não se limitando às modas e tendências comuns, indo mais além com uma curiosidade radical acerca do sentido da vida, e de Deus Pai-Criador e Deus-Filho Redentor no seio da família humana. Eles devem-se comprometer por uma constante renovação do mundo à luz de Deus. Mais ainda: cabe-lhes a tarefa de opor-se às fáceis ilusões da felicidade imediata e dos paraísos enganosos da droga, do prazer, do álcool, junto com todas as formas de violência.
6. "Quédate con nosotros"
Los trabajos de esta V Conferencia General nos llevan a hacer nuestra la súplica de los discípulos de Emaús: "Quédate con nosotros, porque atardece y el día ya ha declinado" (Lc 24, 29).
Quédate con nosotros, Señor, acompáñanos aunque no siempre hayamos sabido reconocerte. Quédate con nosotros, porque en torno a nosotros se van haciendo más densas las sombras, y tú eres la Luz; en nuestros corazones se insinúa la desesperanza, y tú los haces arder con la certeza de la Pascua. Estamos cansados del camino, pero tú nos confortas en la fracción del pan para anunciar a nuestros hermanos que en verdad tú has resucitado y que nos has dado la misión de ser testigos de tu resurrección.
Quédate con nosotros, Señor, cuando en torno a nuestra fe católica surgen las nieblas de la duda, del cansancio o de la dificultad: tú, que eres la Verdad misma como revelador del Padre, ilumina nuestras mentes con tu Palabra; ayúdanos a sentir la belleza de creer en ti.
Quédate en nuestras familias, ilumínalas en sus dudas, sosténlas en sus dificultades, consuélalas en sus sufrimientos y en la fatiga de cada día, cuando en torno a ellas se acumulan sombras que amenazan su unidad y su naturaleza. Tú que eres la Vida, quédate en nuestros hogares, para que sigan siendo nidos donde nazca la vida humana abundante y generosamente, donde se acoja, se ame, se respete la vida desde su concepción hasta su término natural.
Quédate, Señor, con aquéllos que en nuestras sociedades son más vulnerables; quédate con los pobres y humildes, con los indígenas y afroamericanos, que no siempre han encontrado espacios y apoyo para expresar la riqueza de su cultura y la sabiduría de su identidad. Quédate, Señor, con nuestros niños y con nuestros jóvenes, que son la esperanza y la riqueza de nuestro Continente, protégelos de tantas insidias que atentan contra su inocencia y contra sus legítimas esperanzas.¡Oh buen Pastor, quédate con nuestros ancianos y con nuestros enfermos. ¡Fortalece a todos en su fe para que sean tus discípulos y misioneros!
Conclusión
Al concluir mi permanencia entre vosotros, deseo invocar la protección de la Madre de Dios y Madre de la Iglesia sobre vuestras personas y sobre toda América Latina y el Caribe. Imploro de modo especial a Nuestra Señora – bajo la advocación de Guadalupe, Patrona de América, y de Aparecida, Patrona de Brasil - que os acompañe en vuestra hermosa y exigente labor pastoral. A ella confío el Pueblo de Dios en esta etapa del tercer Milenio cristiano. A ella le pido también que guíe los trabajos y reflexiones de esta Conferencia General, y que bendiga con abundantes dones a los queridos pueblos de este Continente.
Antes de regresar a Roma, quiero dejar a la V Conferencia General del Episcopado de Latinoamérica y el Caribe un recuerdo que la acompañe e la inspire. Se trata de este hermoso tríptico que proviene del arte cuzqueño del Perú. En él se representa al Señor poco antes de ascender a los cielos, dando a quienes lo seguían la misión de hacer discípulos a todos los pueblos. Las imágenes evocan la estrecha relación de Jesucristo con sus discípulos y misioneros para la vida del mundo. El último cuadro representa San Juan Diego evangelizando con la imagen de la Virgen María en su tilma y con la Biblia en la mano. La historia de la Iglesia nos enseña que la verdad del Evangelio, cuando se asume su belleza con nuestros ojos y es acogida con fe por la inteligencia y el corazón, nos ayuda a contemplar las dimensiones de misterio que provocan nuestro asombro y nuestra adhesión.
Me despido muy cordialmente de todos vosotros con esta firme esperanza en el Señor

VISITA DO PAPA AO BRASIL

Caríssimos Irmãos e Irmãs:
Saúdo com muito afeto a todos vós que viestes dos quatro cantos do Brasil, da América Latina e do Caribe, bem como aos que me escutam pela Rádio ou pela Televisão. Durante a celebração da Santa Missa, invoquei o Espírito Santo pedindo pelos frutos da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe que, dentro de pouco, terei a ocasião de inaugurar. Peço a todos que rezem pelos frutos desta grande assembléia, que abre de esperança o futuro da família latino-americana. Sois os protagonistas do destino das vossas Nações. Que Deus vos abençoe e vos acompanhe!
Saludo con afecto a los Grupos y Comunidades de lengua española aquí presentes, así como a todos los que desde España y Latinoamérica se unen espiritualmente a esta celebración. Que la Virgen María os ayude a mantener viva la llama de la fe, el amor y la concordia, para que mediante el testimonio de vuestra vida y la fidelidad a vuestra vocación de bautizados seáis luz y esperanza de la humanidad. Pidamos también para que la celebración de esta Quinta Conferencia General del Episcopado Latinoamericano y del Caribe produzca abundantes frutos de auténtica renovación espiritual y de incansable evangelización. ¡Que Dios os bendiga!
I warmly greet all the English-speaking groups present today. Families stand at the heart of the Church’s mission of evangelization, for it is in the home that our life of faith is first expressed and nurtured. Parents, you are the primary witnesses to your children of the truths and values of our faith: pray with and for your children; teach them by your example of fidelity and joy! Indeed, every disciple, spurred on by word and strengthened by sacrament, is called to mission. It is a duty from which no-one should shy away, for nothing is more beautiful than to know Christ and to make him known to others! May Our Lady of Guadalupe be your model and guide. God Bless you all!
Chères familles et groupes de langue française, je vous salue de tout cœur, vous qui vivez sur le Continent sud-américain, notamment en Haïti, en Guyane française et dans les Antilles. Puissiez-vous édifier, avec tous, une société toujours plus solidaire et plus fraternelle, avec le souci de faire découvrir aux jeunes la grandeur des valeurs familiales.
Recorre hoje o nonagésimo aniversário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima. Com o seu veemente apelo à conversão e à penitência é, sem dúvida, a mais profética das aparições modernas. Vamos pedir à Mãe da Igreja, Ela que conhece os sofrimentos e as esperanças da humanidade, que proteja nossos lares e nossas comunidades. Saúdo especialmente as mães que hoje comemoram o seu Dia. Deus as abençoe com os seus queridos.
De modo especial confiamos a Maria aqueles aqueles povos e nações que têm particular necessidade, e o fazemos na certeza de que não desprezará as súplicas que com filial devoção Lhe dirigimos. Penso especialmente naqueles irmãos e irmãs que padecem a fome e, por isso, desejo recordar a "A Marcha contra a fome" promovida pelo Programa Alimentar Mundial, organismo das Nações Unidas encarregado da ajuda alimentar. Esta iniciativa acontece hoje em numerosas cidades do mundo, entre as quais aqui no Brasil, em Ribeirão Preto.
Nossas preces vão dirigidas também à Comunidade afro-brasileira que comemora neste domingo a abolição da escravatura no Brasil. Possa essa recordação estimular a consciência evangelizadora desta realidade sócio-cultural de grande importância na Terra da Santa Cruz.
Dirijo igualmente minha cordial saudação, juntamente com os meus sinceros agradecimentos, a todos os Grupos e Associações que aqui se encontram. Que Deus vos recompense e mantenha firmes na fé.
Aclamemos com alegria o início da nossa salvação.

VISITA DO PAPA AO BRASIL

Senhores CardeaisSenhor Arcebispo de São Pauloe Bispos do Brasil e da América LatinaDistintas autoridadesIrmãs e Irmãos em Cristo,
«Bendirei continuamente ao Senhor / seu louvor não deixará meus lábios» [Sl 33,2]
1. Alegremos-nos no Senhor, neste dia em que contemplamos outra das maravilhas de Deus que, por sua admirável providência, nos permite saborear um vestígio da sua presença, neste ato de entrega de Amor representado no Santo Sacrifício do Altar.
Sim, não deixemos de louvar ao nosso Deus. Louvemos todos nós, povos do Brasil e da América, cantemos ao Senhor as suas maravilhas, porque fez em nós grandes coisas. Hoje, a Divina sabedoria permite que nos encontremos ao redor do seu altar em ato de louvor e de agradecimento por nos ter concedido a graça da Canonização do Frei Antônio de Sant’Ana Galvão.
Quero agradecer as carinhosas palavras do Arcebispo de São Paulo, D. Odilo Scherer, que foi a voz de todos vós, e a atenção do seu predecessor, o Cardeal Cláudio Hummes, que com tanto esmero empenhou-se pela causa do Frei Galvão. Agradeço a presença de cada um e de cada uma, quer sejam moradores desta grande cidade ou vindos de outras cidades e nações. Alegro-me que através dos meios de comunicação, minhas palavras e as expressões do meu afeto possam entrar em cada casa e em cada coração. Tenham certeza: o Papa vos ama, e vos ama porque Jesus Cristo vos ama.
Nesta solene celebração eucarística foi proclamado o Evangelho no qual Cristo, em atitude de grande enlevo, proclama: «Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos» (Mt 11,25). Por isso, sinto-me feliz porque a elevação do Frei Galvão aos altares ficará para sempre emoldurada na liturgia que hoje a Igreja nos oferece.
Saúdo com afeto, a toda a comunidade franciscana e, de modo especial as monjas concepcionistas que, do Mosteiro da Luz, da Capital paulista, irradiam a espiritualidade e o carisma do primeiro brasileiro elevado à glória dos altares.
2. Demos graças a Deus pelos contínuos benefícios alcançados pelo poderoso influxo evangelizador que o Espírito Santo imprimiu em tantas almas através do Frei Galvão. O carisma franciscano, evangelicamente vivido, produziu frutos significativos através do seu testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia, de prudente e sábio orientador das almas que o procuravam e de grande devoto da Imaculada Conceição de Maria, de quem ele se considerava ‘filho e perpétuo escravo’.
Deus vem ao nosso encontro, "procura conquistar-nos - até à Última Ceia, até ao Coração trespassado na cruz, até as aparições e as grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente" (Carta encl. Deus caritas est, 17). Ele se revela através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente da Eucaristia. Por isso, a vida da Igreja é essencialmente eucarística. O Senhor, na sua amorosa providência deixou-nos um sinal visível da sua presença.
Quando contemplarmos na Santa Missa o Senhor, levantado no alto pelo sacerdote, depois da Consagração do pão e do vinho, ou o adorarmos com devoção exposto no Ostensório renovemos com profunda humildade nossa fé, como fazia Frei Galvão em "laus perennis", em atitude constante de adoração. Na Sagrada Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, ou seja, o mesmo Cristo, nossa Páscoa, o Pão vivo que desceu do Céu vivificado pelo Espírito Santo e vivificante porque dá Vida aos homens. Esta misteriosa e inefável manifestação do amor de Deus pela humanidade ocupa um lugar privilegiado no coração dos cristãos. Eles devem poder conhecer a fé da Igreja, através dos seus ministros ordenados, pela exemplaridade com que estes cumprem os ritos prescritos que estão sempre a indicar na liturgia eucarística o cerne de toda obra de evangelização. Por sua vez, os fiéis devem procurar receber e reverenciar o Santíssimo Sacramento com piedade e devoção, querendo acolher ao Senhor Jesus com fé e sempre, quando necessário, sabendo recorrer ao Sacramento da reconciliação para purificar a alma de todo pecado grave.
3. Significativo é o exemplo do Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir o povo sempre quando era solicitado. Conselheiro de fama, pacificador das almas e das famílias, dispensador da caridade especialmente dos pobres e dos enfermos. Muito procurado para as confissões, pois era zeloso, sábio e prudente. Uma característica de quem ama de verdade é não querer que o Amado seja ofendido, por isso a conversão dos pecadores era a grande paixão do nosso Santo. A Irmã Helena Maria, que foi a primeira "recolhida" destinada a dar início ao "Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição", testemunhou aquilo que Frei Galvão disse: "Rezai para que Deus Nosso Senhor levante os pecadores com o seu potente braço do abismo miserável das culpas em que se encontram". Possa essa delicada advertência servir-nos de estímulo para reconhecer na misericórdia divina o caminho para a reconciliação com Deus e com o próximo e para a paz das nossas consciências.
4. Unidos em comunhão suprema com o Senhor na Eucaristia e reconciliados com Deus e com o nosso próximo, seremos portadores daquela paz que o mundo não pode dar. Poderão os homens e as mulheres deste mundo encontrar a paz se não se conscientizarem acerca da necessidade de se reconciliarem com Deus, com o próximo e consigo mesmos? De elevado significado foi, neste sentido, aquilo que a Câmara do Senado de São Paulo escreveu ao Ministro Provincial dos Franciscanos no final do século XVIII, definindo Frei Galvão como "homem de paz e de caridade". Que nos pede o Senhor?: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amo». Mas logo a seguir acrescenta: que «deis fruto e o vosso fruto permaneça» (cf. Jo 15, 12.16). E que fruto nos pede Ele, senão que saibamos amar, inspirando-nos no exemplo do Santo de Guaratinguetá?
A fama da sua imensa caridade não tinha limites. Pessoas de toda a geografia nacional iam ver Frei Galvão que a todos acolhia paternalmente. Eram pobres, doentes no corpo e no espírito que lhe imploravam ajuda.
Jesus abre o seu coração e nos revela o fulcro de toda a sua mensagem redentora: «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos» (ib.v.13). Ele mesmo amou até entregar sua vida por nós sobre a Cruz. Também a ação da Igreja e dos cristãos na sociedade deve possuir esta mesma inspiração. As pastorais sociais se forem orientadas para o bem dos pobres e dos enfermos, levam em si mesmas este sigilo divino. O Senhor conta conosco e nos chama amigos, pois só aos que se ama desta maneira, se é capaz de dar a vida proporcionada por Jesus com sua graça.
Como sabemos a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano terá como tema básico: "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida". Como não ver então a necessidade de acudir com renovado ardor à chamada, a fim de responder generosamente aos desafios que a Igreja no Brasil e na América Latina está chamada a enfrentar?
5. «Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei», diz o Senhor no Evangelho, (Mt 11,28). Esta é a recomendação final que o Senhor nos dirige. Como não ver aqui este sentimento paterno e, ao mesmo tempo materno, de Deus por todos os seus filhos? Maria, a Mãe de Deus e Mãe nossa, se encontra particularmente ligada a nós neste momento. Frei Galvão, assumiu com voz profética a verdade da Imaculada Conceição. Ela, a Tota Pulchra, a Virgem Puríssima, que concebeu em seu seio o Redentor dos homens e foi preservada de toda mancha original, quer ser o sigilo definitivo do nosso encontro com Deus, nosso Salvador. Não há fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora.
De fato, este nosso Santo entregou-se de modo irrevocável à Mãe de Jesus desde a sua juventude, querendo pertencer-lhe para sempre e escolhendo a Virgem Maria como Mãe e Protetora das suas filhas espirituais.
Queridos amigos e amigas, que belo exemplo a seguir deixou-nos Frei Galvão! Como soam atuais para nós, que vivemos numa época tão cheia de hedonismo, as palavras que aparecem na Cédula de consagração da sua castidade: "tirai-me antes a vida que ofender o vosso bendito Filho, meu Senhor". São palavras fortes, de uma alma apaixonada, que deveriam fazer parte da vida normal de cada cristão, seja ele consagrado ou não, e que despertam desejos de fidelidade a Deus dentro ou fora do matrimônio. O mundo precisa de vidas limpas, de almas claras, de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer. É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento.
É neste momento que teremos em Nossa Senhora a melhor defesa contra os males que afligem a vida moderna; a devoção mariana é garantia certa de proteção maternal e de amparo na hora da tentação. Não será esta misteriosa presença da Virgem Puríssima, quando invocarmos proteção e auxílio à Senhora Aparecida? Vamos depositar em suas mãos santíssimas a vida dos sacerdotes e leigos consagrados, dos seminaristas e de todos os vocacionados para a vida religiosa.
6. Queridos amigos, deixai-me concluir evocando a Vigília de Oração de Marienfeld na Alemanha: diante de uma multidão de jovens, quis definir os santos da nossa época como verdadeiros reformadores. E acrescentava: "só dos Santos, só de Deus provém a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo" (Homilia, 20/08/2005). Este é o convite que faço hoje a todos vós, do primeiro ao último, nesta imensa Eucaristia. Deus disse: «Sede santos, como Eu sou santo» (Lv 11,44). Agradeçamos a Deus Pai, a Deus Filho, a Deus Espírito Santo, dos quais nos vêm, por intercessão da Virgem Maria, todas as bênçãos do céu; este dom que, juntamente com a fé é a maior graça que o Senhor pode conceder a uma criatura: o firme anseio de alcançar a plenitude da caridade, na convicção de que não só é possível, como também necessária a santidade, cada qual no seu estado de vida, para revelar ao mundo o verdadeiro rosto de Cristo, nosso amigo! Amém!

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI ENCONTRO E CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS

Amados irmãos no Episcopado,
«O Filho de Deus aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. Tendo chegado à perfeição, tornou-se causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem» (cf. Hb 5,8-9).
1. O texto que acabamos de ouvir na Leitura Breve das Vésperas de hoje contém um ensinamento profundo. Também neste caso constatamos como a Palavra de Deus é viva e mais penetrante do que uma espada de dois gumes, chega até à juntura da alma, reconfortando-a, estimulando os seus fiéis servidores (cf. Hb 4,12).
Agradeço a Deus por ter permitido encontrar-me com um Episcopado de prestígio, que está à frente de uma das mais numerosas populações católicas do mundo. Eu vos saúdo com sentimentos de profunda comunhão e de afeto sincero, bem conhecendo a dedicação com que seguis as comunidades que vos foram confiadas. A calorosa acolhida do Senhor Pároco da Catedral da Sé e de todos os presentes fez-me sentir em casa, nesta grande Casa comum que é nossa Santa Mãe a Igreja Católica.
Dirijo uma especial saudação à nova Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e, ao agradecer as palavras do seu Presidente, Dom Geraldo Lyrio Rocha, faço votos de um profícuo desempenho na tarefa de consolidar sempre mais a comunhão entre os bispos e de promover a ação pastoral comum num território de dimensões continentais.
2. O Brasil está acolhendo os participantes da V Conferência do Episcopado Latino-americano com a sua tradicional hospitalidade. Exprimo o meu agradecimento pela cortês recepção dos seus membros e o meu profundo apreço pelas orações do povo brasileiro, formuladas especialmente em prol do bom êxito do encontro dos bispos em Aparecida.
É um grande evento eclesial que se situa no âmbito do esforço missionário que a América Latina deverá propor-se, precisamente a partir daqui, do solo brasileiro. Foi por isso que quis dirigir-me inicialmente a vós, Bispos do Brasil, evocando aquelas palavras densas de conteúdo da Carta aos Hebreus: «O Filho de Deus aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação para todos os que lhe obedecem» (Hb 5, 8-9). Exuberante no seu significado, este versículo fala da compaixão de Deus para conosco, concretizada na paixão de seu Filho; e fala da sua obediência, da sua adesão livre e consciente aos desígnios do Pai, explicitada especialmente na oração no monte das Oliveiras: «Não seja feita a minha vontade, mas a tua» (Lc 22,42). Assim, é o próprio Jesus a nos ensinar que a verdadeira via de salvação consiste em conformar a nossa vontade à vontade de Deus. É exatamente o que pedimos na terceira invocação da oração do Pai Nosso: que seja feita a vontade de Deus, assim na terra como no céu, porque onde reina a vontade de Deus, aí está presente o reino de Deus. Jesus nos atrai para a sua vontade, a vontade do Filho, e deste modo nos guia para a salvação. Indo ao encontro da vontade de Deus, com Jesus Cristo, abrimos o mundo ao reino de Deus.
Nós Bispos somos convocados para manifestar essa verdade central, pois estamos vinculados diretamente a Cristo, Bom Pastor. A missão que nos é confiada, como Mestres da fé, consiste em recordar, como o mesmo Apóstolo das Gentes escrevia, que o nosso Salvador «quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1Tm 2, 4-6). Esta é a finalidade, e não outra, a finalidade da Igreja, a salvação das almas, uma a uma. Por isso o Pai enviou seu Filho, e «como o Pai me enviou, também eu vos envio» (Jo 20,21). Daqui, o mandato de evangelizar: «Ide, pois, ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo» (Mt 28,19-20). São palavras simples e sublimes nas quais estão indicadas a obrigação de pregar a verdade da fé, a urgência da vida sacramental, a promessa da contínua assistência de Cristo à sua Igreja. Estas são realidades fundamentais e se referem à instrução na fé e na moral cristã, e à prática dos sacramentos. Onde Deus e a sua vontade não são conhecidos, onde não existe a fé em Jesus Cristo e nem a sua presença nas celebrações sacramentais, falta o essencial também para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos. A fidelidade ao primado de Deus e da sua vontade, conhecida e vivida em comunhão com Jesus Cristo, é o dom essencial, que nós Bispos e sacerdotes devemos oferecer ao nosso povo (cf. Populorum progressio 21).
3. O ministério episcopal nos impele ao discernimento da vontade salvífica, na busca de uma pastoral que eduque o Povo de Deus a reconhecer e acolher os valores transcendentes, na fidelidade ao Senhor e ao Evangelho.
É verdade que os tempos de hoje são difíceis para a Igreja e muitos dos seus filhos estão atribulados. A vida social está atravessando momentos de confusão desnorteadora. Ataca-se impunemente a santidade do matrimônio e da família, iniciando-se por fazer concessões diante de pressões capazes de incidir negativamente sobre os processos legislativos; justificam-se alguns crimes contra a vida em nome dos direitos da liberdade individual; atenta-se contra a dignidade do ser humano; alastra-se a ferida do divórcio e das uniões livres. Ainda mais: no seio da Igreja, quando o valor do compromisso sacerdotal é questionado como entrega total a Deus através do celibato apostólico e como disponibilidade total para servir às almas, dando-se preferência às questões ideológicas e políticas, inclusive partidárias, a estrutura da consagração total a Deus começa a perder o seu significado mais profundo. Como não sentir tristeza em nossa alma? Mas tende confiança: a Igreja é santa e incorruptível (cf. Ef 5,27). Dizia Santo Agostinho: "Vacilará a Igreja se vacila o seu fundamento, mas poderá talvez Cristo vacilar? Visto que Cristo não vacila, a Igreja permanecerá intacta até o fim dos tempos" (Enarrationes in Psalmos, 103,2,5; PL, 37, 1353.)
Entre os problemas que afligem a vossa solicitude pastoral está, sem dúvida, a questão dos católicos que abandonam a vida eclesial. Parece claro que a causa principal, dentre outras, deste problema, possa ser atribuída à falta de uma evangelização em que Cristo e a sua Igreja estejam no centro de toda explanação. As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas - que é motivo de justa preocupação – e incapazes de resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo são geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, por vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata. Na Encíclica Deus caritas est recordei que "Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (n. 1). É necessário, portanto, encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira missão dentro do rebanho que constitui a Igreja Católica no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e capilar em vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo. Trata-se efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo, através de uma pastoral da acolhida que os ajude a sentir a Igreja como lugar privilegiado do encontro com Deus e mediante um itinerário catequético permanente.
Uma missão evangelizadora que convoque todas as forças vivas deste imenso rebanho. Meu pensamento dirige-se, portanto, aos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos que se prodigalizam, muitas vezes com imensas dificuldades, para a difusão da verdade evangélica. Dentre eles, muitos colaboram ou participam ativamente nas Associações, nos Movimentos e em outras novas realidades eclesiais que, em comunhão com seus Pastores e de acordo com as orientações diocesanas, levam sua riqueza espiritual, educativa e missionária ao coração da Igreja, como preciosa experiência e proposta de vida cristã.
Neste esforço evangelizador, a comunidade eclesial se destaca pelas iniciativas pastorais, ao enviar, sobretudo entre as casas das periferias urbanas e do interior, seus missionários, leigos ou religiosos, procurando dialogar com todos em espírito de compreensão e de delicada caridade. Mas se as pessoas encontradas estão numa situação de pobreza, é preciso ajudá-las, como faziam as primeiras comunidades cristãs, praticando a solidariedade, para que se sintam amadas de verdade. O povo pobre das periferias urbanas ou do campo precisa sentir a proximidade da Igreja, seja no socorro das suas necessidades mais urgentes, como também na defesa dos seus direitos e na promoção comum de uma sociedade fundamentada na justiça e na paz. Os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho e um Bispo, modelado segundo a imagem do Bom Pastor, deve estar particularmente atento em oferecer o divino bálsamo da fé, sem descuidar do "pão material". Como pude evidenciar na Encíclica Deus caritas est, "a Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os Sacramentos nem a Palavra" (n. 22).
A vivência sacramental, especialmente através da Confissão e da Eucaristia, adquire aqui uma importância de primeira grandeza. A vós Pastores cabe a principal tarefa de assegurar a participação dos fiéis na vida eucarística e no Sacramento da Reconciliação; deveis estar vigilantes para que a confissão e a absolvição dos pecados sejam, de modo ordinário, individual, tal como o pecado é um fato profundamente pessoal (cf. Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et penitentia, n. 31, III). Somente a impossibilidade física ou moral escusa o fiel desta forma de confissão, podendo neste caso obter a reconciliação por outros meios (Cân. 960; cf. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 311). Por isso, convém incutir nos sacerdotes a prática da generosa disponibilidade para atender aos fiéis que recorrem ao Sacramento da misericórdia de Deus (Carta ap. Misericordia Dei, 2).
4. Recomeçar a partir de Cristo em todos os âmbitos da missão. Redescobrir em Jesus o amor e a salvação que o Pai nos dá, pelo Espírito Santo. Esta é a substância, a raiz, da missão episcopal que faz do Bispo o primeiro responsável pela catequese diocesana. Com efeito, ele tem a direção superior da catequese, rodeando-se de colaboradores competentes e merecedores de confiança. É óbvio, portanto, que os seus catequistas não são simples comunicadores de experiências de fé, mas devem ser autênticos transmissores, sob a guia do seu Pastor, das verdades reveladas. A fé é uma caminhada conduzida pelo Espírito Santo que se resume em duas palavras: conversão e seguimento. Essas duas palavras-chave da tradição cristã indicam com clareza, que a fé em Cristo implica uma práxis de vida baseada no dúplice mandamento do amor, a Deus e ao próximo, e exprimem também a dimensão social da vida cristã.
A verdade supõe um conhecimento claro da mensagem de Jesus, transmitida graças a uma compreensível linguagem inculturada, mas necessariamente fiel à proposta do Evangelho. Nos tempos atuais é urgente um conhecimento adequado da fé, como está bem sintetizada no Catecismo da Igreja Católica com o seu Compêndio. Faz parte da catequese essencial também a educação às virtudes pessoais e sociais do cristão, como também a educação à responsabilidade social. Exatamente porque fé, vida e celebração da sagrada liturgia como fonte de fé e de vida, são inseparáveis, é necessária uma mais correta aplicação dos princípios indicados pelo Concílio Vaticano II no que diz respeito à Liturgia da Igreja, incluindo as disposições contidas no Diretório para os Bispos (nn.145-151), com o propósito de devolver à Liturgia o seu caráter sagrado. É com esta finalidade que o meu Venerável predecessor na Cátedra de Pedro, João Paulo II, quis renovar "um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística" (...) "A liturgia jamais é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios" (Carta encl. Ecclesia de Eucharistia, n. 52). Redescobrir e valorizar a obediência às normas litúrgicas por parte dos Bispos, como "moderadores da vida litúrgica da Igreja", significa testemunhar a própria Igreja, una e universal que preside na caridade.
5. É necessário um salto de qualidade na vivência cristã do povo, para que possa testemunhar a sua fé de forma límpida e esclarecida. Essa fé, celebrada e participada na liturgia e na caridade, nutre e fortifica a comunidade dos discípulos do Senhor e os edifica como Igreja missionária e profética. O Episcopado brasileiro possui uma estrutura de grande envergadura, cujos Estatutos foram há pouco revistos para o seu melhor desempenho e uma dedicação mais exclusiva ao bem da Igreja. O Papa veio ao Brasil para pedir-vos que, no seguimento da Palavra de Deus, todos os Veneráveis Irmãos no episcopado saibam ser portadores de eterna salvação para todos os que lhe obedecem (cf. Hb 5,10). Nós, pastores, na esteira do compromisso assumido como sucessores dos Apóstolos, devemos ser fiéis servidores da Palavra, sem visões redutivas e confusões na missão que nos é confiada. Não basta observar a realidade a partir da fé pessoal; é preciso trabalhar com o Evangelho nas mãos e fundamentados na correta herança da Tradição Apostólica, sem interpretações movidas por ideologias racionalistas.
Assim é que, "nas Igrejas particulares compete ao Bispo conservar e interpretar a Palavra de Deus e julgar com autoridade aquilo que está ou não de acordo com ela" (Congr. para a Doutrina da Fé, Instr. sobre a vocação eclesial do teólogo, n. 19). Ele, como Mestre de fé e de doutrina, poderá contar com a colaboração do teólogo que "na sua dedicação ao serviço da verdade, deverá, para permanecer fiel à sua função, levar em conta a missão própria do Magistério e colaborar com ele" (ib. 20). O dever de conservar o depósito da fé e de manter a sua unidade exige estreita vigilância, de modo que este seja "conservado e transmitido fielmente e que as posições particulares sejam unificadas na integridade do Evangelho de Cristo" (Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos, n. 126).
Eis então a enorme responsabilidade que assumis como formadores do povo, mormente dos vossos sacerdotes e religiosos. São eles vossos fiéis colaboradores. Conheço o empenho com que procurais formar as novas vocações sacerdotais e religiosas. A formação teológica e nas disciplinas eclesiásticas exige uma constante atualização, mas sempre de acordo com o Magistério autentico da Igreja.
Faço apelo ao vosso zelo sacerdotal e ao sentido de discernimento das vocações, também para saber complementar a dimensão espiritual, psico-afetiva, intelectual e pastoral em jovens maduros e disponíveis ao serviço da Igreja. Um bom e assíduo acompanhamento espiritual é indispensável para favorecer o amadurecimento humano e evita o risco de desvios no campo da sexualidade. Tende sempre presente que o celibato sacerdotal é um dom "que a Igreja recebeu e quer guardar, convencida de que ele é um bem para ela e para o mundo" (Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, n. 57).
Gostaria de recomendar à vossa solicitude também as Comunidades religiosas que se inserem na vida da própria Diocese. É uma contribuição preciosa que oferecem, pois, apesar da "diversidade de dons, o Espírito é o mesmo" (1 Cor 12,4). A Igreja não pode senão manifestar alegria e apreço por tudo aquilo que os Religiosos vêm realizando mediante Universidades, escolas, hospitais e outras obras e instituições.
6. Conheço a dinâmica das vossas Assembléias e o esforço por definir os diversos planos pastorais, que dêem prioridade à formação do clero e dos agentes da pastoral. Alguns dentre vós fomentastes movimentos de evangelização para facilitar o agrupamento dos fiéis numa linha de ação. O Sucessor de Pedro conta convosco para que vossa preparação se apóie sempre naquela espiritualidade de comunhão e de fidelidade à Sé de Pedro, a fim de garantir que a ação do Espírito não seja vã. Com efeito, a integridade da fé, junto à disciplina eclesial, é, e será sempre, tema que exigirá atenção e desvelo por parte de todos vós, sobretudo quando se trata de tirar as consequências do fato que existe «uma só fé e um só batismo».
Como sabeis, entre os vários documentos que se ocupam da unidade dos cristãos está o Diretório para o ecumenismo publicado pelo Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos. O Ecumenismo, ou seja, a busca da unidade dos cristãos torna-se nesse nosso tempo, no qual se verifica o encontro das culturas e o desafio do secularismo, uma tarefa sempre mais urgente da Igreja católica. Com a multiplicação, porém, de sempre novas denominações cristãs e, sobretudo diante de certas formas de proselitismo, frequentemente agressivo, o empenho ecumênico torna-se uma tarefa complexa. Em tal contexto é indispensável uma boa formação histórica e doutrinal, que habilite ao necessário discernimento e ajude a entender a identidade específica de cada uma das comunidades, os elementos que dividem e aqueles que ajudam no caminho de construção da unidade. O grande campo comum de colaboração deveria ser a defesa dos fundamentais valores morais, transmitidos pela tradição bíblica, contra a sua destruição numa cultura relativística e consumista; mais ainda, a fé em Deus criador e em Jesus Cristo, seu Filho encarnado. Além do mais vale sempre o princípio do amor fraterno e da busca de compreensão e de proximidade mútuas; mas também a defesa da fé do nosso povo, confirmando-o na feliz certeza, que a "unica Christi Ecclesia... subsistit in Ecclesia catholica, a successore Petri et Episcopis in eius communione gubernata" ("a única Igreja de Cristo... subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele") (Lumen gentium 8).
Neste sentido se procederá a um franco diálogo ecumênico, através do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, zelando pelo pleno respeito das demais confissões religiosas, desejosas de manter-se em contato com a Igreja Católica no Brasil.
7. Não é nenhuma novidade a constatação de que vosso País convive com um déficit histórico de desenvolvimento social, cujos traços extremos são o imenso contingente de brasileiros vivendo em situação de indigência e uma desigualdade na distribuição da renda que atinge patamares muito elevados. A vós, veneráveis Irmãos, como hierarquia do povo de Deus, vos compete promover a busca de soluções novas e cheias de espírito cristão. Uma visão da economia e dos problemas sociais, a partir da perspectiva da doutrina social da Igreja, leva a considerar as coisas sempre do ponto de vista da dignidade do homem, que transcende o simples jogo dos fatores econômicos. Deve-se, por isso, trabalhar incansavelmente para a formação dos políticos, dos brasileiros que têm algum poder decisório, grande ou pequeno e, em geral, de todos os membros da sociedade, de modo que assumam plenamente as próprias responsabilidades e saibam dar um rosto humano e solidário à economia.
Ocorre formar nas classes políticas e empresariais um autêntico espírito de veracidade e de honestidade. Quem assume uma liderança na sociedade, deve procurar prever as conseqüências sociais, diretas e indiretas, a curto e a longo prazo, das próprias decisões, agindo segundo critérios de maximização do bem comum, ao invés de procurar ganâncias pessoais.
8. Queridos irmãos, se Deus quiser, encontraremos outras oportunidades para aprofundar as questões que interpelam a nossa solicitude pastoral conjunta. Desta vez, desejei, certamente de maneira não exaustiva, expor os temas mais relevantes que se impõem à minha consideração de Pastor da Igreja universal. Transmito-vos o meu afetuoso encorajamento que é, ao mesmo tempo, uma fraterna e sentida súplica: para que procedais e trabalheis sempre, como vindes fazendo, em concórdia, tendo como vosso fundamento uma comunhão que na Eucaristia encontra o seu momento culminante e o seu manancial inesgotável. Confio todos vós a Maria Santíssima, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, enquanto de todo o coração vos concedo, a cada um de vós e às vossas respectivas Comunidades, a Bênção Apostólica