quarta-feira, 30 de abril de 2008

JOSÉ, PAI-EDUCADOR DE JESUS

JOSÉ, PAI-EDUCADOR DE JESUSa. Os fatos1. Joana é professora numa escola elementar de Apucarana. Das 32 crianças que tem na sala, apenas 14 moram com seus pais, com os dois ou somente com a mãe. Os outros 18 moram com a avó, com uma tia, uma madrinha, ou moram no recanto do menor.2. Geni, com 16 anos, saiu de casa e vive com duas colegas que estudam e trabalham. Não suportava mais o pai autoritário e machão, nem aceitava a submissão da mãe que não a defendia e parecia mais uma serva do que a com-responsável pela família.3. Será que Jesus tem algo a nos dizer sobre a família? Ele não foi marido nem pai. Suas palavras não são vãs, por estarem baseadas apenas na sabedoria divina?De quem aprendeu tudo aquilo que ensinou?1. A família de Jesus.Jesus nasceu, cresceu e se educou numa família judaica. Uma família formada, segundo o registro civil, por José e Maria (Mt 1,16). Ele era Deus, sim, mas também verdadeiro homem. Nada nos permite reduzir a sua natureza humana concreta. Se algo nele parecia inexistente ou apenas aparente, era a sua natureza divina.José, o esposo de Maria, era um homem “justo” (Mt 1,19). Maria, a jovem mãe de Jesus, é chamada por sua prima Isabel de “bendita entre as mulheres” e bem-aventurada porque acreditou (Lc 1, 42-45).É uma família pobre, descendente da Davi (Lc 2,4-5). Devido às circunstâncias, Jesus nasce em Belém, fora da casa da família. Como berço ele teve uma manjedoura, “pois não havia lugar para eles dentro da casa”(Lc 2,6-7).Maria, como toda a mãe faz, cuidou de Jesus menino sob todos os aspectos. Quando completou quatro anos, José começou a ensinar ao menino as orações e os preceitos da Lei de Moisés. Era uma das tarefas do pai. Desde os 6 ou 7 anos, Jesus freqüentou a escola da sinagoga de Nazaré, onde aprendeu a ler (Lc 4,16) e a escrever. Jesus aprendeu também a profissão do seu pai adotivo, José. É que ele era conhecido como “o filho do carpinteiro” (Mt 13,55). Jesus viveu em um ambiente familiar, que incluía tios, primos, irmãos de criação, parentes (Mc 3, 21-31).Foi numa família como esta que Jesus cresceu e foi educado (Lc 2,39-40.50-52), obediente à autoridade e exemplo de seus pais (Lc 2,51).Ele convivia com as famílias de Nazaré, onde viveu uns trinta anos, e depois com as famílias dos povoados e cidades que ele percorreu nos últimos três anos. Por isso Jesus conhecia as relações familiares, seus problemas e alegrias. Nas suas conversas sobre o Reino de Deus vemos que ele continuamente se refere ao matrimônio, às suas vivências e problemas, ao relacionamento entre pais e filhos. Ora, donde lhe vem essa sabedoria e esse conhecimento? Não é ele o filho do carpinteiro? (Mt 13,55).Jesus teve a experiência humana de um bom pai:Por isso, com freqüência, em suas mensagens, fala de ...A – Deus que é como um pai, sempre disposto a ouvir os seus filhos (Lc 11,11-13); é como um pai para os homens (Mt 5, 45; 6,8); preocupa-se com seus filhos (Mt 6, 25-26);B – Deus é como um pai que acolhe e perdoa o filho que saiu de casa e esbanjou a fortuna que recebeu do pai (Lc 15,11-24);C – Deus é como um pai que coloca à disposição de seus filhos tudo o que possui, porque quer o seu bem (Lc 15,31-32);D – do pai que envia seus filhos para trabalhar (Mt 21,28-31);E – do pai que envia seu único filho para cobrar um arrendamento (Mc 12,1-12);F – do pai que descansa com seus filhos (Lc 11,5-7);G – dos filhos que não cuidam de seus pais (Mc 7,9-13);I – recorda o 4º mandamento sobre os deveres para com os pais (Mc 10,19).Com o exemplo de seu pai, Jesus aprendeu os valores da família:A – “O que Deus uniu, o homem não deve separar” (Mt 19,3-9);B – “Quem se divorciar... e se casar com uma mulher divorciada, comete adultério” (Mt 5,32);C – “Todo aquele que olha para uma mulher...” (Mt 5,28);D – “É de dentro do coração... que saem as más intenções, como a imoralidade, roubos, crimes, adultérios, maldades...” (Mc 7,21-23).b. FantasiasPor vezes formamos da “Sagrada Família” um quadro ideal:São José era um casto velhinho de barbas brancas e com um lírio florido na mão; a Virgem Maria era pura, alva, belíssima que nem um céu, sempre recatada, fechada em casa, rezando ou cuidando de seus afazeres;o Menino Jesus era um anjinho sem asas, que vivia cortando pedaços de madeira, na oficina de seu pai, para fazer cruzes.2. José soube enfrentar as dificuldades de uma família como a nossa, com problemas.A .Problemas matrimoniais:Segundo o evangelho, “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mt 1,18).Não encontramos na Bíblia nenhum fundamento para pintar José como ancião. Como toda a mocinha judaica, Maria queria casar-se com um jovem que tivesse mais ou menos a sua idade. E o que acontece?Estão oficialmente noivos, com o compromisso do matrimônio. Ainda não podiam viver juntos. Como é que José fica sabendo da gravidez de Maria? Alguma vizinha o felicitou porque ia ser pai? José é homem e, como judeu, sabia que tinha direito ao divórcio. Por ser justo e pelo amor e consideração que tinha para com ela, pensou em não armar um escândalo, mas despedi-la secretamente (Mt 1,19). E o que estaria passando no coração de Maria? Pensa no sofrimento que estaria causando a José, mas não sabe como falar, não pode consultar ninguém. E Deus não se explica. E tudo isto numa cidadezinha pequena como Nazaré. Graças à inspiração que recebeu de Deus em sonho, José tomou a iniciativa de levar Maria para sua casa (Mt 1,24). E aí os dois conversaram, se explicaram, e, sem, ter relações com José, Maria teve um filho e José lhe deu o nome de Jesus (Mt 1,25).B. Problemas sociais e políticos.O nascimento de Jesus foi um novo problema. Foram obrigados a fazer uma longa viagem quando Maria estava para dar à luz; em Belém não encontraram hospedagem, e José se preocupou de encontrar um lugar para Maria, que então deu à luz o seu filho numa manjedoura, entre animais (Lc 2,1-7). Depois o rei Herodes procura o menino para matá-lo (Mt 2,13); por isso José deve levar o menino e sua mãe para um país estrangeiro, onde não têm parentes e José deve encontrar um novo emprego. Mesmo depois da morte de Herodes, José teme de voltar, pois deve estar fichado e tem antecedentes perante a autoridade política (Mt 2, 21-22). Foram para Nazaré, um lugar pobre, onde José teve que se dedicar à sua profissão de carpinteiro para manter a família e educar o filho.C – Problemas de pais com o filho.Era filho único. Numa viagem a Jerusalém, fica na cidade sem avisar os pais (Lc 2, 41-50). Ficou porque quis, não porque se tinha perdido. Mesmo sabendo que iria dar-lhes um tremendo desgosto, Jesus não pediu permissão a seus pais. E teria sido fácil. Somente depois de três dias o encontraram no templo. Maria o repreendeu asperamente, mas ele deu uma desculpa que eles não entenderam. Até aos 13 anos o menino era um menor de idade, subordinado em tudo a seus pais. E eles eram muito rigorosos com seus filhos. A partir dos quatro anos, era o pai que assumia a responsabilidade dos filhos homens. Algumas vezes, dos 6 anos 12 anos, o pai mandava os filhos aprender um ofício na casa de outros ou, até mesmo, vendia a filha como escrava. O pai podia dar as filhas em casamento a quem ele quisesse. Era o pai que orientava não só a vida social e econômica de seus filhos, mas até mesmo a vida religiosa. Por isso, o que Jesus fez foi algo inusitado naquela sociedade e numa boa família. Diferentemente de qualquer pai deste mundo, que lhe teria dado uma merecida surra, José ficou calado, talvez se perguntando se o filho não era já um adulto responsável, com coragem e capacidade de tomar iniciativas por conta própria. Foi Maria quem perdeu a paciência, a calma e repreendeu instintivamente o filho. Sim, deve ter ficado também ele pensativo e, como Maria, não entendeu totalmente e estranhou um pouco aquela atitude singular e, por isso, guardou essas coisas todas no seu coração, interrogando-se sobre o significado daquela expressão “Vocês não sabiam que devo estar na casa de meu Pai?”. 3. O que Jesus aprendeu na escola de José?A resposta que Jesus deu à sua mãe, quando ela, desgostada e sofrendo, lhe fez a observação “Meu filho, por que você fez isso conosco” foi: “Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2, 48-49). Somos capazes hoje de entender esta resposta de Jesus?Jesus deu a Maria e a José uma resposta dizendo que deve estar na casa de seu Pai, que deve se ocupar das coisas de seu Pai. Foi certamente com José que Jesus aprendeu a dar prioridade às coisas do Pai. E quando estava com doze anos de idade – a adolescência-maioridade naquele tempo – Jesus quis fazer essa afirmação prática da necessidade de colocar Deus em primeiro lugar, embora sem desobedecer aos pais terrestres; de fato o evangelho continua explicando que “Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu obediente a eles” (Lc 2, 51). Deus, nosso Pai, é o único absoluto que existe em nossa vida. Os pais não geram os filhos para si, mas para o mundo e para Deus. E se, na minha consciência, entrarem em conflito a vontade de Deus e a vontade dos homens (sejam eles pais ou autoridades) é a Deus que devo obedecer e não aos homens.É claro que este nosso Deus não é uma pessoa qualquer. É aquele Deus para o qual nós, seus filhos, somos o que ele mais ama. É aquele Deus para o qual é impossível deixar de amar-nos, que sempre nos quer bem, que sempre está a nosso favor... É o Deus da vida, da verdadeira felicidade!É por isso que Jesus certo dia dirá a todos os cristãos: “A ninguém na terra chameis “Pai”, pois um só é vosso Pai, aquele que está no Céu” (Mt 23,9). A autoridade e domínio dos pais deste mundo não é intocável. A última palavra não cabe a esses pais, mas ao Pai do céu. E nosso Pai do céu nos fala de muitas maneiras. Também através de conselhos e do exemplo de outros “pais” ou conselheiros. Mas a última palavra cabe a ele, através daquilo que nos dita a nossa consciência de cristãos.O comportamento rebelde de Jesus está ainda a significar que existe uma idade (mais ou menos identificada com a adolescência-juventude) em que os filhos precisam começar a se libertar do jugo dos pais para começarem a pensar com a própria cabeça, a construir o próprio futuro de acordo com suas potencialidades, desenvolvendo os próprios talentos. Se esse tempo (freqüentemente indefinível) for retardado, poderemos ter filhos que se tornam adultos sempre dependentes ou medrosos ou infantis ou sem criatividade ou perenemente inconstantes. Os pais devem facilitar essa independência lenta mas constante dos filhos, embora nos dias de hoje não seja fácil reconhecer quando essa atitude de amadurecimento está nos limites ou saiu do controle dos pais e passou a ser dependência de forças mais perigosas. Sabemos, porém, que esse é o único caminho capaz de gerar homens e mulheres fortes, corajosos e capazes de construir o próprio futuro e de colaborar para um mundo melhor. Esse comportamento humano, Jesus o aprendeu certamente com José, um homem “justo”, provavelmente comedido em palavras, mas muito claro e definido em gestos e atitudes. 4. A paternidade de José na “Redemptoris Custos” (n. 7.8.16): Ler e comentar.5. Da Carta Pastoral de S. José Marello sobre a educação dos filhos:É uma Carta Pastoral redigida em fevereiro de 1892 e revela muito da alma e do estilo de educador do Marello. No seu entender, a verdadeira formação dos jovens deve conjugar inteligência e coração, compreensão e firmeza, abertura e segurança. Eis um breve esquema da Carta, naquilo que nos interessa:A – os filhos são um depósito sagrado confiado por Deus;B – têm direito à preocupação dos pais e ao desenvolvimento corporal e espiritual;C – educar é iluminar com a luz da verdade, aquecer com o fogo do divino amor e guiar pelos caminhos da salvação;D – não só instrução escolar, mas também instrução religiosa na catequese e com a pregação;E – meio de instrução: o catecismo católico;F – os pais são os primeiros responsáveis pela educação com a instrução e com os bons exemplos;G – importância da vigilância sobre si mesmos e sobre os filhos, em casa e fora de casa;H – o amor não dispensa a correção; mas nunca um rigor excessivo, que causa ódio;I – pistas para a educação dos filhos:- conjugar indulgência e repreensão- discrição e prudência com a severidade- conhecer a psicologia dos filhos e adaptar-se a eles- discernimento entre culpa e culpa- corrigir com justiça e amor- contemperar louvores e admoestações- saber encorajar e compensarJ – Problemas difíceis na educação: - o mal nunca é sem remédio- revigorar a fé em Deus- valorizar a oração (sem nunca desistir) para si e para os filhos.NB. Dependendo do tempo à disposição, ler alguns trechos da Carta Pastoral:Páginas sublinhadas: 51, 53, 54-55, 55, 57, 57-58, 59, 61.Para refletir e responder:1 – Quais foram as maiores dificuldades que a Família de Nazaré enfrentou?2 – Quais são os valores humanos e cristãos que as famílias estão perdendo?3 – Quais os conselhos que você daria a um pai para melhor educar seus filhos?4 – O que lhe parece ainda atual na Carta do Marello?
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