quarta-feira, 30 de abril de 2008

Curso de Josefologia - Parte 1 - Capítulo 6 - O nascimento de Jesus e a sua circuncisão

O evangelista Lucas coloca neste acontecimento o fato de um Decreto para o recenseamento promulgado por César Augus-to, fato este que levou José e Maria a dirigirem-se de Nazaré até Belém. Em Lucas (2,1-7) lemos “Naqueles tempos apare-ceu um decreto de César Augusto, ordenando o recensea-mento de toda a terra. Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Na-zaré, à Judéia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da cada e família de Davi, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles, ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria”.Constatamos que no segundo capítulo de Mateus por três ve-zes ele insiste: “Para que se cumprisse o que foi dito pelo Se-nhor por meio do Profeta”. Ainda Mateus (2,5-6) afirma: “Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo”. Ora, tudo isso indica expressões dos de-sígnios de Deus a respeito do nascimento do Messias.Podemos concluir que a partir do fato do recenseamento, José começou a exercitar os seus direito e deveres de pai em rela-ção a Jesus buscando o lugar para o seu nascimento, perma-necendo ao lado de Maria durante o parto e depois registran-do em Belém o nome e a pessoa de Jesus como seu descen-dente e em tudo isso saboreando, apesar das circunstâncias difíceis do nascimento de Jesus, que ele era o pai daquele que salvaria o mundo dos seus pecados (Mt 1,21).Após o nascimento de Jesus, seus pais procuraram circunci-dá-lo. O episódio da circuncisão de Jesus impressionou mui-tos pintores e artistas talvez pelo motivo da eficácia da cena, assim como tocou muitos pregadores pelo motivo do sangue derramado no rito, etc. Contudo é importante considerá-la na sua justa perspectiva teológica.A circuncisão não foi invenção dos hebreus, porque esta já era conhecida entre os povos com os quais o povo hebreu teve contato. O que é próprio dos hebreus foi ter assumido este rito como símbolo da aliança com Deus e da santidade de Israel entre as nações. A carne do hebreu circuncidada é o sinal da aliança mantida e portanto do direito das promessas feitas por Deus a Abraão, e é também um título para o exercí-cio do culto (Ex 12,43-44s). É em suma, um sinal de pacto com Javé.A lei da circuncisão é descrita meticulosamente em Jeremias 17. É preciso afirmar que a circuncisão de Jesus não pode ser considerada somente como uma circunstância que permitiu de introduzir uma ação importante na sua vida, ou seja; de dar-lhe o nome de Jesus, embora reconhecendo a ênfase sobre a imposição do nome. Sem dúvida, Lucas não inseriu o rito da circuncisão simplesmente como uma notícia de crônica e nem quis com isso enfatizar a solidariedade de Jesus com o gêne-ro humano, enquanto esta verdade já estava presente na en-carnação. Também não é específico da circuncisão de Jesus a sua inserção na descendência de Abraão, porque esta podia também ser dada para estrangeiros como possibilidade para que participassem do culto (Gn 17,12; Ex 12,48), muito mais porque Lucas relata que Maria era esposada com um homem chamado José, da casa de Davi.A circuncisão, portanto não pode ser considerada, como já afirmamos, apenas como uma circunstância para dar o nome a Jesus. Ademais, Lucas não diz expressamente que Jesus foi circuncidado, mas usa a expressão: “Quando se completa-ram os oito dias para a circuncisão...” (Lc 2,21). Este detalhe é importante para evitar que Jesus pudesse vir a ser colocado entre os circuncidados como se fosse um membro da aliança, ele que é a própria aliança. Ademais, Jesus não é um benefi-ciário das promessas, pois ele é a Promessa (2Cor 1,20), ele é aquele que “salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21). Ele não está portanto entre os eleitos e salvos.Lucas enfatiza a origem celeste do nome Jesus, deixando na sombra a função de José (Mt 1,21-25) e de Maria (Lc 1,31), para evidenciar que a salvação vem de Deus na pessoa de Jesus.A circuncisão tornou Jesus súdito da lei (At 15,5) ele se sub-meteu à lei. Ela o envolveu na aliança, mostrando que ele é o Sim das promessas de Deus (Lc 1,54s.72s. 2,25). A circunci-são na ótica de Lucas foi o momento histórico no qual o nome de Jesus tornou-se mysterium salutis. De fato, ele interpreta este evento no seu significado salvífico através da ligação com o nome de Jesus “Ele enviou a sua palavra, aos filhos de Israel, anunciando-lhes a boa nova da paz por Jesus Cristo...” (At 10,36).A eficácia do nome Jesus tem aqui o seu início e todo o seu significado.Entre os primeiros deveres de um pai para com o filho estava aquele de circuncidá-lo, o que não significava que o pai devia ser o executor material, porque podia ser a mãe (Ex 4,25), ou normalmente, dado a delicadeza do intervento, era atribuição de uma pessoa capaz, conhecido como Mohel (circundante). Contudo, era o pai que devia assumir a responsabilidade para que o seu filho fosse inserido no povo da promessa.Esta cerimônia era realizada normalmente na casa do neonato (Lc 1,59) com a presença de um certo número de testemu-nhas que segundo a tradição talmúdica eram dez, entre as quais estava o padrinho que segurava o menino durante a cerimônia. Durante o rito o pai da criança proferia, conforme a tradição talmudica, uma benção com estas palavras: “bendito aquele que nos santificou com os seus mandamentos e nos ordenou de introduzir a este na aliança de Abraão, nosso pai”. No relato do desenvolvimento deste rito José ficou na sombra, contudo foi ele que como pai de Jesus que providen-ciou, preparou e preocupou-se com todos os requisitos para a realização deste rito. As gotas de sangue, o choro do menino, as suas lágrimas, são todos detalhes daquele precioso mo-mento que podemos imaginar presentes em seu coração atra-vés daquele rito. Neste, José impondo-lhe o nome de Jesus declarou, como afirma a Exortação Apostólica Redemptoris Custos, “A própria paternidade legal em relação a Jesus; e, pronunciando esse nome, proclamou a missão deste menino, de ser o Salvador” (RC 12). Ele foi o primeiro a pronunciar oficialmente para o mundo o nome de Jesus e a proclamar consequentemente a sua missão de Salvador da humanidade.Questões para o aprofundamento pessoal1.Leia e tome conhecimento do relato sobre o recenseamen-to em Lc 2,1-7 e compare com Mt 2,5-6. Qual a finalidade do recenseamento e qual a função que José manifesta neste episódio?2.Leia Êxodo 17 depois indique em Lucas onde encontra-se a referência à circuncisão de Jesus?3.Por que Jesus foi circuncidado? Qual foi a função de José neste acontecimento da vida de Jesus?

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