quarta-feira, 30 de abril de 2008

JOSÉ DE NAZARÉ, por Dom Gil Antônio Moreira

Ao narrar o nascimento de Jesus, o evangelista Mateus, destaca a figura de José, esposo de Maria, colocando-o em estreita relação com Abraão, o pai de povo hebreu e com Davi, de cuja descendência nasceria o Salvador (cf. Mt 1,1-24). Em sua descrição genealógica, demonstra que entre Abraão e Davi, houve quatorze gerações e de Davi até o exílio da Babilônia, mais quatorze gerações e desde aí até o nascimento de Cristo, mais quatorze, sinalizando o simbolismo do número sete, o número da plenitude, duplamente presente nas três partes da ordem genealógica. Passa a descrever a forma espiritual e miraculosa com que se deu o nascimento de Jesus Cristo, narrando a experiência vital de José, o homem justo, demonstrando que mais importante que o puro dado genealógico, é a descendência na linha da fé, cuja origem maravilhosa está em Abraão aquele que acreditou contra toda esperança. São Paulo, na carta aos Romanos (cf. Rom 4,1-25), discorre sobre a justificação de Abraão pela fé, uma vez que não se salvou pela observância da lei, só revelada bem mais tarde no Sinai a Moisés. Tal fé tem seu ponto máximo ao momento do nascimento do Messias, e para ela se abrem de forma esplendorosa José e Maria de Nazaré. José, ao lado da santa esposa, está posto nos umbrais do momento messiânico, provado por Deus e mostrado como modelo de fé e disponibilidade diante do plano do Altíssimo. Mateus classifica José como homem justo, aquele em cuja alma se dava a justificação do alto, aquele cujo espírito estava ajustado de forma madura e plena com o Senhor do Universo, Deus Pai amoroso e onipotente que cria e salva a humanidade. Pela sua fé, na condição de esposo legal e casto de Maria, se realiza a paternidade espiritual pela qual o Salvador, gerado pela força do Espírito Santo no seio virginal da jovem de Nazaré, cumpre a promessa feita aos primeiros pais e confirmada na profecia de Natan a Davi.Em José se evidencia de forma eloqüente a vocação do homem maduro que se realiza em ser fiel a toda prova, ao não abandonar Maria na concepção extraordinária do Menino de Belém. Nele se pode contemplar a integridade de alma, ao despojar-se de si mesmo diante do plano de Deus, disponibilizando-se total e indivisamente para a missão de ser pai legal, adotivo, do Menino Deus. Ao lado da Virgem esposa, José é modelo de pai que cuida do filho, na certeza de estar servindo humildemente a Deus e de estar diante de um mistério que só pode ser entendido dentro do prisma da mais genuína fé e do mais completo amor.Na vida da Igreja, José sempre ocupou lugar de distinção, respeito e veneração. Documentos do século VII, a festa litúrgica introduzida no século XII, a expansão de sua devoção no ocidente, sobretudo a partir do século XV e as várias distinções dadas ao seu nome nos tempos modernos, fazem de São José um dos santos mais queridos e populares do mundo cristão. O papa João XXIII (1959-1963) o declarou Patrono Universal da Igreja, por ter sido escolhido por Deus para cabeça da família de Nazaré, a primeira Igreja Doméstica. Sendo esposo de Maria Santíssima, pai legal de Jesus, se torna também patrono na Igreja, Corpo Místico de Cristo. Mediante a confiança depositada por Deus neste homem justo e bom, o fiel encontra razões para submeter-se ao seu patrocínio e à sua intercessão, em Cristo, para que suplique ao Pai em todas as suas necessidades, sobretudo as relacionadas com a família, a educação dos filhos e a manutenção geral dos lares. Muitos seminários e outras casas de formação dos futuros sacerdotes são postos sob o patrocínio de São José, bem como mosteiros e conventos, pois ele é modelo de alguém que se entregou total e indivisivelmente à obra do Senhor, não querendo nada para si, mas tudo para Deus. A Constituição Conciliar Lumen Gentium, do Vaticano II, diz: “Nela (na família) os pais devem ser para seus filhos os primeiros pregadores da fé mediante a palavra e o exemplo e devem fomentar a vocação própria de cada um, mas com cuidado especial a vocação sagrada (LG 11,2).Ao aproximar-se a grande festa da Natividade do Senhor, na genuína espiritualidade do Advento, José nos é apresentado como modelo de quem se prepara para celebrar o mistério da encarnação do Verbo, exemplo de vivência da Palavra divina, que se concretiza no dia a dia, e de força na expectativa da segunda vinda do Salvador.

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