quarta-feira, 30 de abril de 2008

: Curso de Josefologia - Parte 1 - Capítulo 10 - Vida em Nazaré e a permanência de Jesus no Templo

Neste mistério salvífico da fuga para o Egito, “José, depositá-rio e cooperador do mistério providencial de Deus, também no exílio vela por Aquele que vai tornar realidade a Nova Aliança’ (RC 14). Ali ele foi instrumento do qual Deus se serviu para “chamar do Egito o seu Filho”Terminada todas as vicissitudes e contratempos, de regresso do exílio José estabeleceu-se com a sua família na pequena Nazaré e retomou as suas atividades de artesão. Afinal, era esta a sua profissão. De volta ao seu ambiente, tudo se torna-ra mais fácil. Portanto, dificilmente teria encontrado dificuldade em retomar os seus trabalhos na aldeia e nas vizinhanças, pois embora não fosse um homem de cátedra, era muito práti-co e capaz de, nas ocorrências da vida, tomar decisões não só no que se referia a si mesmo, como também aos outros. A sua profissão fazia dele um homem bastante conhecido entre os nazarenos, e o período que passou longe da sua terra, sem manter contato com os parentes e conterrâneos, não foi sufi-ciente para apagar da memória do povo a imagem daquele homem completo, com sua personalidade rica e responsável em seus deveres.Sua pequena oficina, que permaneceu por um bom tempo fechada, empoeirada e desapercebida, começava novamente a ser o ponto de encontro das pessoas, o ponto de referência para muitos da cidade e da região circunvizinha. Muito mais que isso, era o palco sublime da presença de Jesus criança e iniciante na arte, da carpintaria. De novo o barulho da serra e do martelo passava a chamar a atenção dos transeuntes e a dar tom de vida mais movimentada à pacata cidadezinha.Como antes, as mãos habilidosas do carpinteiro de Nazaré eram requisitadas não só para fabricar uma mesa ou um par de cadeiras, mas também para abrir uma valeta no quintal de um vizinho, consertar uma porta ou uma janela numa das poucas centenas de casas pobres do lugarejo, ou ainda tra-çar com maestria e habilidade os fundamentos de uma nova construção.Desta maneira, o dia-a-dia de José começava a tomar nova-mente o seu ritmo, junto com a sua castíssima esposa e o seu filho, que “crescia robusto, cheio de sabedoria, pois a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40).Como qualquer criança de seu tempo, Jesus queria crescer, e por isso observava com atenção o comportamento do pai e da mãe e se espelhava nos seus exemplos para tornar-se como eles. Será um aluno atento na carpintaria como esmero e manejo da serra e as pancadas certeiras do martelo. Sentir-se-á feliz aos sábados, ao deixar a labuta da oficina ou os bancos da escola para acompanhar o pai à sinagoga, ficará admirado ao seguir com atenção seus gestos e suas inclina-ções na casa de oração, sentira orgulho dele ao vê-lo enca-minhar-se para frente na sinagoga, pegar o pergaminho da palavra de Deus nas mãos e proclamar em voz alta e altisso-nante a todos os presentes a palavra do Senhor.Será no convívio com os pais que aprenderá o que é neces-sário para a vida, mas será também na sinagoga, lugar rico em ensinamentos, que irá entender muitas coisas. Atraído por sua curiosidade de criança, saberá que a pequena lâmpada, sempre acesa diante do armário que guarda sigilosamente os pergaminhos da Sagrada Escritura, simboliza a luz da lei divi-na ali presente que ilumina todos os homens. Será na fre-qüência à sinagoga que compreenderá que as estrelas de seis pontas significam o emblema do seu antepassado Davi, o grande rei que escreveu salmos belíssimos, muitos dos quais já sabia de cor, pois tinha aprendido em casa nos joelhos de Maria, sua mãe, ou na companhia do pai na carpintaria.Será na sua família, pequena escola de Nazaré, que Jesus aprenderá a rezar e santificar o dia elevando o pensamento a Deus com as orações costumeiras do israelita. José e Maria, cientes da educação devida ao filho, não se limitarão a trans-mitir ensinamentos a Jesus apenas em casa, mas seguramen-te o encaminharão todos os dias a uma escola sinagogal, on-de terá como livro os textos sagrados e como professor um rabi. Na escola aprenderá a recitar em voz alta o Shemá, a fórmula fundamental da fé do seu povo, assim como aprende-rá longos trechos do Pentateuco. Em casa, aos poucos, en-tenderá os episódios, da história do seu povo, e como toda criança começará a amar os seus heróis estudados nos textos sagrados, como os Profetas, o poderoso José do Egito, Moi-sés o grande libertador e líder que conduziu o povo da es-cravidão do Egito pelo deserto por quarenta anos até a terra prometida, e Davi, que na sua simplicidade abateu o gigante Golias...Com José Jesus irá aos poucos aprendendo o significado das grandes festas religiosas do seu povo que eram celebradas durante o ano (Era costume entre os hebreus visitar Jerusa-lém três vezes ao ano: nas festas da Páscoa, de Pentecostes e dos Tabernáculos. Os que moravam longe de Jerusalém tinham a obrigação de uma só viagem, justamente para os festejos da Páscoa). Quando já havia completado 12 anos, teve a oportunidade de participar pela primeira vez dos feste-jos da Páscoa na cidade santa de Jerusalém. Levar o filho pela primeira vez para participar oficialmente do culto ao ver-dadeiro Deus era motivo de muita alegria para todos os pais. As cerimônias desses dias tinham um significado muito pro-fundo. José, a exemplo de outras famílias de sua cidadezinha, preparou tudo para fazer a peregrinação a Jerusalém, comida para a viagem, tenda para pernoitar, afinal eram quatro dias de viagem pelos montes de Judá, percorrendo em média 35 quilômetros por dia, além do burrinho para transportar tudo. Chegados a Jerusalém, estes simples aldeões de Nazaré pu-deram admirar o palácio de Herodes com suas torres e muros, o formalismo dos fariseus e sobretudo espantar-se com o ex-traordinário número de peregrinos, fazendo com que a popu-lação, que normalmente era 78 mil, passasse para 150 mil ou mais pessoas. Tudo ali se confundia: costumes, língua e gen-te diferente misturada com pobres, doentes, coxos e cegos que aproveitavam os festejos para mendigar. No dia do início dos festejos José estava lá acompanhando Jesus, na parte do pátio do Templo reservada aos homens.Terminados os festejos, que se prolongavam mais dias, era tempo de voltar para casa. Os peregrinos de Nazaré se reú-nem para em caravana empreender a viagem de retorno, subdivididos em grupos de homens e mulheres. Jesus, porém, ficou na cidade, entre os pórticos do Templo, sem que seus pais percebessem, e ouvia os ensinamentos dos rabinos. Sua ausência na caravana foi notada quase depois de um dia de viagem, quando devem ter parado para descansar junto à fon-te de Berot. Imediatamente os seus pais voltam a Jerusalém e o procuram por todos os lados, até que o encontram entre os doutores. Sua mãe, apreensiva, perguntou-lhe: “Filho, por que você procedeu assim com a gente? Seu pai e eu está-vamos bastante aflitos procurando você". (Lc 2,48). Nestas palavras de Maria fica evidenciada a paternidade real de José; não só os que ignoravam a divindade e a concepção admirá-vel de Cristo chamam José de pai de Jesus, afirma Suárez, mas o próprio evangelista e também a Virgem Maria (Misté-rios de la vida de Cristo, Madrid, 1958, Vol I, pp. 263-264). Comumente a iconografia apresentou este fato ocorrido aos doze anos da vida de Jesus como “A perda de Jesus de Jeru-salém”, porém seguramente não foi uma perda de Jesus entre a multidão que se apinhava em Jerusalém naqueles dias, mas sim uma decisão livre e espontânea do próprio Jesus... Ele mesmo quis permanecer lá, e não foi por um descuido de seus pais. Devemos notar que, aos doze anos, os adolescen-tes israelitas começavam a gozar uma certa autonomia e já eram considerados socialmente. Assim, não foi difícil para Je-sus conseguir o seu intento, mesmo porque os adolescentes podiam acompanhar tanto o pai como a mãe em caravanas separadas, as quais se encontravam somente em alguns pon-tos preestabelecidos. Portanto, nem José nem Maria podiam imaginar que Jesus tivesse ficado em Jerusalém.Depois de encontrá-lo, Jesus desceu com eles para Nazaré e, no seio da Sagrada Família, uma das tantas famílias desta pequena cidade da Galiléia, crescia e “robustecia-se de sa-bedoria, e a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40). Estas poucas palavras resumem o longo período da vida “ oculta” que Jesus viveu à espera do cumprimento da sua missão messiânica. Durante todo esse período, Jesus viveu no âmbito da sua família, sob os cuidados de São José, que tinha con-forme os deveres de um pai na época, a responsabilidade de alimentá-lo, vesti-lo e instruí-lo na lei e ensinar- lhe um ofício. Nesse contexto, Jesus crescia “em sabedoria, em estatura e em graça” (Lc 2,52), tudo na docilidade total aos seus pais “era-lhes submisso” (Lc 2,51). Correspondia portanto, com todo respeito às atenções de seus pais e, “dessa forma, quis santificar os deveres da família e do trabalho, que ele próprio executava ao lado de José” (João Paulo II, Exortação Apostó-lica Redemptoris Custos, Roma, 1989 - RC 16).Os evangelistas silenciam completamente sobre os anos da “vida oculta” de Jesus em Nazaré. Sabemos apenas que le-vou uma vida comum, não apresentando nada de especial entre os habitantes da sua cidade. Na oficina de José, acom-panhou os acontecimentos por vezes tumultuados da história do seu povo, cujo governador, Arquelau, destacava-se pela crueldade, mostrando ter um braço forte para governar. Seu comportamento tirano gerava rebeldia, movimentos de revolta comandados por líderes espontâneos que se estendiam por toda a Judéia. Aspirava como qualquer cidadão do seu tempo a uma verdadeira e completa libertação, que depois iria pregar com toda veemência pelas terras da Palestina.A instabilidade política reinante no país e o descontentamen-to do povo com o domínio dos romanos marcaram profunda-mente as etapas da vida de Jesus adolescente e jovem. Con-tudo, todos esses anos foram acompanhados pelos constan-tes e sábios conselhos de José educador. Ali, na casa de Na-zaré, José transmitia ao filho a sua experiência profissional e humana.Questões para o aprofundamento pessoal1.Leia e tome conhecimento do relato de Mt 2,19-23. Para onde a Sagrada Família dirigiu-se depois do exílio? O que José passou a fazer após este acontecimento? Como po-demos individuar a sua profissão2.Qual o episódio marcante de Jesus na vida de José e Ma-ria durante a vivência em Nazaré e em que passagem de Lucas Maria evidencia a paternidade de José sobre Jesus?

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