quarta-feira, 30 de abril de 2008

Capítulo 7 - A apresentação de Jesus no Templo e a oferta do Primog

As referências que Lucas faz no trecho em que focaliza a nar-rativa da infância de Jesus mostram claramente o cumprimen-to do Antigo Testamento (Lc 2,22-24). Aliás, como já afirma-mos, Jesus reconhece a autoridade do Antigo Testamento e vê o objetivo de sua missão e o cumprimento de todo o Antigo Testamento “não vim para abolir a lei e os profetas, mas para cumpri-la...” (Mt 5,17). O Antigo Testamento era um tempo de espera que culminou com a vinda de Jesus, o Filho de Deus (Gl 4,4) cumprindo tudo o que estava prometido.A atenção que o evangelista Lucas coloca no cumprimento segundo a lei, mostra a sua preocupação de mostrar como o ingresso de Jesus no Templo é o cumprimento do esperado “dia de Javé”, caracterizado por uma purificação e de uma excepcional oferta que é o próprio Jesus. De fato, Lucas ser-ve-se do rito de purificação da mulher que dava à luz, confor-me era estabelecido pela lei de Moisés que toda a mãe, após o parto era obrigada a apresentar-se no Templo para purificar-se, pois a mulher após dar à luz era considerada impura (Lev 12,2-4). Para os exegetas, a cerimônia da purificação de Ma-ria é considerada por Lucas como uma simples moldura histó-rica, na qual ele inseriu um quadro muito importante, subli-nhando a excepcional santidade da oferta de Jesus.Conforme o livro do Levítico, na Lei de Moisés continha três prescrições: a purificação da mãe depois de quarenta dias do nascimento do filho; a consagração a Deus de cada primogê-nito seja ele homem ou animal e o resgate de cada primogêni-to (Ex 13,2.13). Entretanto no texto, Lucas evidencia a apre-sentação de Jesus no Templo, isto para ressaltar o valor histó-rico que seus pais realizavam em vista da missão desta crian-ça, Santa por excelência (Lc 1,35). Ele é um consagrado a Deus de maneira única e com uma especial consagração. A-lém disso, Lucas fundamentando-se no Antigo Testamento, onde a palavra consagração (parestánai) tem a conotação em relação aos Levitas e Sacerdotes que desenvolviam o serviço no nome do Senhor (Dt 17,12; 18,5), vê em Jesus desde a-quele momento como o Grande Sacerdote da nova Aliança e também como o Sacerdote que se oferece como sacrifício ofertado (J. Danielou, les Evangiles de L’Enfance, Paris 1967, pg 109-111). Assim, José e Maria apresentam ao Pai, o pró-prio Filho Jesus como Sacerdote e hóstia dado em sacrifício.A lei do primogênito estabelecida em Ex 13,1-15 era muito importante porque lembrava a absoluta dependência de Deus que Israel teve para sua libertação do Egito (Ex 3,12s). Os primogênitos israelitas na ocasião da libertação do povo de Israel do Egito, não podiam ser destinados para o uso profa-no, senão através do resgate, ou seja, de um pagamento efetuado pelo pai de uma soma equivalente aproximadamente a vinte dias de trabalho (Nm 18,16). No primogênito era repre-sentado o povo da aliança, resgatado da escravidão para per-tencer a Deus (RC 13). Da fato, o evangelista Lucas descreve que “Concluídos os dias da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para a apresentação ao Se-nhor, conforme o que está escrito na lei do Senhor: “Todo pri-mogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”(Ex 13,2); e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Se-nhor, um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2,22-24). Por-tanto, o primeiro objetivo que Lucas coloca para a viagem da Sagrada Família à Jerusalém é para “apresentar o Senhor”, o Menino, o primogênito de Maria (Lc 2,7). Cumpriu-se, assim segundo o AT, o estabelecido na lei e Jesus com isso supera este rito, pois não era ele “um simples homem sujeito a ser resgatado, mas o próprio autor do resgate” (RC 13). Aqui está também mais um motivo do por que Lucas omite o referimento ao resgate, embora José, certamente o pagou, pois este era uma obrigação do pai. José com suas próprias mãos e plena-mente consciente dos mistérios, ofereceu e consagrou a Deus sobre o altar do Templo, o Menino Jesus.Os artistas têm com freqüência colocado o velho Simeão no centro da cena da apresentação de Jesus, o qual encontrava-se presente no Templo nesta ocasião em companhia de sua esposa Ana. Quem apresentou de fato Jesus ao Templo fo-ram os seus pais (Lc 2,22), os quais cumpriram o que deter-minava a lei. Neste sentido não é possível separar José e Ma-ria neste rito; eles foram os ministros deste, foram os instru-mentos de Deus para esta oferta, ao passo que Simeão e Ana foram os instrumentos para a revelação do seu significado. Com isso podemos dizer que José e Maria foram introduzidos progressivamente no mistério de Jesus justamente através deste canal profético. De fato, eles ficaram maravilhados do quanto ouviram da boca de Simeão a respeito de Jesus, defi-nido como salvação para todos os povos, luz para as nações.É importante notar que foi nesta circunstância que Lucas pela primeira vez qualificou expressamente José como pai de Je-sus, nomeando-o hierarquicamente antes de Maria, sua mãe (2,33). Também neste contexto Maria é envolvida como mãe, em relação a Jesus, “uma espada traspassará sua alma” (2,35); aqui o carisma profético de Simeão revela a participa-ção de Maria na sorte dolorosa de seu Filho. Naturalmente José terá experimentado somente em parte esta profecia de sofrimento feita por Simeão, ou seja, tomará parte das angus-tias pela perseguição de Herodes e a fuga no Egito, ou ainda da dor por ocasião da perda de Jesus no Templo, isto porque o evangelista não acena se ele era ainda vivo durante a vida pública de Jesus.No rito da apresentação de Jesus aparece evidente, a partici-pação enfática de José porque ele, como pai, era o responsá-vel do Menino e das observâncias religiosas que lhe diziam respeito. Sabemos que entre os deveres de um pai para com o seu Filho estavam a tarefa de circuncidá-lo, de resgatá-lo, de instruí-lo na Torá e numa profissão e de arranjar-lhe um casamento. Desde o momento em que o Anjo lhe havia transmitido em nome de Deus a ordem de tomar Maria como sua esposa e de dar o nome à criança (Mt 1,21), José passou a viver na espera deste filho e assim, se a Simeão, em virtude do seu carisma profético, tocou anunciar pelos átrios do Templo a presença da salvação na pessoa do Menino (Lc 2,30-31), a José, como pai do Menino, tocou de fazer-lhe os gastos da oferta dele, em virtude do qual todos seriam salvos. O Papa Pio IX, devoto de São José, quando ainda era apenas um sacerdote, numa no-vena pregada por ele, ao comentar a apresentação de Jesus no Templo evidenciava a função de São José naquela particu-lar circunstância, e assim descrevia o seu gesto: “José gene-roso e pronto na obediência, levanta os braços e tendo a sua-ve hóstia do sacrifício exclama; Eterno Pai, eis esta criança, que me deste em lugar de Filho, eu o amo mais que a mim mesmo este amável, este estimado Filho; eu o adoro profun-damente e com grandíssima reverência o reconheço por meu Deus; somente nele eu vivo, somente nele eu me movo, so-mente nele eu existo, mas vós quereis que este penhor seja sacrificado pela saúde dos homens...” (Escritos inéditos de Pio IX, em Estudos Josefinos 27 [1973] - 171).Questões para o aprofundamento pessoal1.Leia e tome conhecimento do relato de Lc 2,22-38 e pro-cure explicar por que Jesus foi apresentado ao Templo – faça um paralelo com Ex 13,1-15.2.Qual foi a função de José na apresentação de Jesus no Templo?3.Tome conhecimento do gesto inédito de José durante este rito na referência

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