sexta-feira, 4 de julho de 2008

10º DOMINGO COMUM

Os.6, 3-6 / Rm.4,18-25 / Mt.9,9-13

Deus é perfeito. Sendo perfeito, é misericordioso: 36 Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso (Lc.6,36). Quem quer fazer parte da família de Deus que é misericordioso deve tornar-se misericordioso. O profeta Oséias notava que grande parte dos judeus do tempo dele dava ofertas para o templo e oferecia animais para serem imolados em honra a Deus, mas não se convertia. Apesar de oferecerem holocaustos a Javé, continuavam praticando as mesmas perversidades que os pagãos praticavam; externamente demonstravam algum tipo de religiosidade, mas eram mesquinhos, perversos e hipócritas, porque o coração deles não estava voltado para Deus. Mateus no capítulo nove e doze do Evangelho cita apenas o versículo seis desta profecia de Oséias, mas a profecia se estende por todo o capítulo seis (Os.6,1-11). Na época, havia dificuldade para escrever, porque o material era muito caro e, como a Bíblia não estava dividida em capítulos e versículos, não dava para indicar onde se encontrava, na Bíblia, um determinado trecho a não ser citando uma frase. Para referir-se à profecia de Oséias, Mateus citou somente uma frase. Jesus, porém, ao responder às críticas dos fariseus, deve ter citado a profecia inteira, isto é, todo o capítulo seis de Oséias.

No capítulo seis, Oséias chama o povo à conversão: 4Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que cedo desaparece (Os.6,4). A religião deles era superficial como orvalho da manhã que seca logo após o nascer do sol. Deus pedia a conversão e o povo se limitava a demonstrar uma religiosidade superficial que se restringia a oferecer animais para serem sacrificados no templo: 6 Porque eu quero misericórdia e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais que holocaustos (os.6,6). Como Mateus, no Evangelho, citou a frase isolada, há uma tendência a distorcer o sentido desta frase, achando que Deus é misericordioso e, por isto, não é necessário fazer sacrifícios, mas não é isto que Oséias diz. A palavra misericórdia, nesta frase, não é atribuída a Deus, mas às pessoas que quiserem ser fiéis a Deus. São as pessoas que desejam salvar-se que devem ter um coração voltado para Deus, que devem ser compassivas e misericordiosas, se quisessem que as suas ofertas tenham algum valor perante Deus. Analisando o resto do capítulo seis, ao longo do qual a profecia se estende, se percebe que Oséias reprova a falta de misericórdia do povo que, apesar de apresentar-se como religioso, era infiel: 7Mas eles violaram a aliança em Adam, lá me foram infiéis. 8Galaad é uma cidade de malfeitores, com marcas de sangue (Os.6,7-8). Os próprios sacerdotes que incentivavam a doação de ofertas e sacrificavam os animais recebidos do povo eram hipócritas e ladrões: 9Bandidos em emboscada, assim é o bando de sacerdotes. Eles matam no caminho de Siquém; sim, eles praticam a ignomínia! (Os.6,9). É inevitável que, numa organização boa, se infiltrem pessoas perversas com o objetivo de tirar algum proveito, mas Oséias tinha notado que a maioria dos sacerdotes e do povo de Deus se tinha pervertido: 10Na casa de Israel vi uma coisa horrível: ali se prostitui Efraim, contamina-se Israel. 11Também para ti, Judá, há uma colheita, quando eu mudar a sorte de meu povo (Os.6,10-11).

A situação religiosa constatada por Oséias, séculos depois, foi constada também por Jesus. Os sacerdotes do templo de Jerusalém e os chefes de sinagogas espalhados por todo Israel se tinham tornado profissionais da religião; não eram fiéis na observância das suas obrigações religiosas mas viviam às custas do povo que, em sua maioria, também não tinha convicções e se restringia a dar algumas migalhas para a igreja. Desde que tinham o necessário para viver, os sacerdotes e chefes das sinagogas não se preocupavam com vida espiritual do rebanho que lhes era confiado.

Jesus procurava pessoas dispostas a assumir suas obrigações espirituais para com Deus, pessoas que, antes de tudo, se submetessem à vontade de Deus e, como conseqüência da conversão, passassem a cumprir certas obrigações externas exigidas pela igreja. Quando os fariseus notaram que certas pessoas que não cumpriam algumas exigências externas impostas pela estrutura eclesiástica estavam aderindo aos apelos de Jesus o criticaram: 10 E aconteceu que, enquanto estava em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e se assentaram com Jesus e os discípulos. 11 Vendo isso, os fariseus disseram aos discípulos: “Por que vosso mestre come junto com cobradores de impostos e pecadores?” (Mt.9,10-11). Jesus estava preocupado com a salvação das almas que depende primeiramente da fidelidade a Deus. As expressões externas da fé são importantes e necessárias, mas têm valor para a salvação somente se forem resultado de uma vida vivida de acordo com a vontade de Deus. Por isto, Jesus citou a profecia de Oséias que retratava uma situação semelhante. Como Mateus tinha por objetivo apenas indicar a profecia citada por Jesus, reproduziu somente o versículo seis (Os.6,6): 12 E ele, que os ouvira, respondeu-lhes: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, e sim os enfermos. 13 Ide e aprendei o que significam as palavras: Quero misericórdia e não sacrifícios. Porque não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (Mt.9,12-13).

Como ninguém está isento de pecado, todos são pecadores. Jesus veio chamar a todos, inclusive os fariseus que se julgavam justos. Mas, para responder ao chamado de Jesus, é necessário que a pessoa admita ser pecadora. Como os fariseus não admitiam que eram pecadores, não se arrependiam dos pecados cometidos e impediam Jesus de perdoá-los.

Hoje a Igreja está repleta de católicos de fachada que abandonaram completamente suas obrigações espirituais para com Deus, mas compram alguns serviços na sacristia das paróquias como o matrimônio, o batismo para os filhos e missas para parentes falecidos que, durante a vida, nada fizeram para salvar as almas. A maioria dos padres se compraz em vender esses serviços sem se preocupar com a salvação das almas dos compradores que parafraseando o ex-cardeal de São Paulo “são católicos à moda deles” e até afirmou ter dado a Eucaristia a um deles, mas não passam de uma corja de hipócritas. Tais eclesiásticos sabem que os sacramentos que estão distribuindo são sacrílegos e que não servem para a salvação daqueles que os pedem, mas para a condenação. Mesmo assim, os distribuem por causa do efêmero prestígio e do mísero retorno financeiro tais serviços geram. Para estes eclesiásticos aplica-se literalmente aquilo que o profeta Oséias disse a respeito dos eclesiásticos seus contemporâneos: 9Bandidos em emboscada, assim é o bando de sacerdotes (Os.6,9ª). Ao prestar contas a Deus, tanto os eclesiásticos que distribuem sacramentos sacrílegos como os católicos de fachada que os pedem serão tratados com mais rigor do que aqueles contra os quais profetizou Oséias.

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